Título: Com forte aumento de custos, mais empresas planejam reajustar preços
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2008, Brasil, p. A2
Um número cada vez maior de empresas industriais planeja reajustar os seus preços, pressionadas por fortes aumentos de custos. A Sondagem da Indústria de Transformação de julho, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que 45% das companhias pretendem elevar as cotações de seus produtos nos próximos três meses, bem mais que os 32% de julho do ano passado. Os setores mais propensos a reajustes são metalurgia, matérias plásticas, celulose e papel, produtos alimentares, química e material de transporte (que inclui a indústria automotiva).
O coordenador-técnico da sondagem, Jorge Braga, nota que a disposição para aumentar preços ocorre num cenário de expectativa crescente de elevações de custos: 48% das companhias esperam aumentos de insumos no mercado interno entre julho e setembro. Há um ano, o percentual era de 25%. A indústria também vê elevações de insumos no front externo, mesmo com o câmbio valorizado - 37% acreditam na intensificação dessas pressões. A alta do aço e o nível elevado dos preços dos derivados do petróleo são alguns dos fatores que explicam esse pessimismo.
A questão é saber se as empresas vão conseguir concretizar os planos de reajuste. Braga ressalta que outros indicadores da sondagem sugerem um quadro de desaceleração econômica. "A alta da inflação e o aumento dos juros devem diminuir o ritmo de crescimento nos próximos meses", diz, ressalvando que os resultados ainda são positivos. Puxada pelo mercado interno, o nível de demanda global informada pelas empresas atingiu o ponto mais alto desde o começo da série, em 1995. A percepção da situação dos negócios em seis meses, porém, mostra piora.
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, diz que o espaço para reajustes é menor do que há dois ou três trimestres, destacando o recente aumento de estoques. Em julho, 10% das empresas apontaram inventários excessivos e 5%, insuficientes, situação bem diferente de outubro passado, quando 10,9% informaram falta de estoques e 5,6%, sobra de inventários. Em bens de consumo, a situação é ainda mais emblemática: em outubro, os estoques insuficientes eram 27,3%, número que caiu para 6,7% em julho. Os excessivos subiram de 8% para 9,8%.
Com ajuste sazonal, o nível de utilização de capacidade instalada (Nuci) da indústria de transformação atingiu 85,8% em julho, o mesmo percentual recorde de outubro de 2007. Borges destaca que o número se deve aos setores de bens de capital (89,1% em julho) e material de construção (89,7%). O Nuci de bens de consumo ficou em 85%, mais que os 82,6% de julho de 2007, mas abaixo dos 86% de abril deste ano. Em bens intermediários, o número ficou em 87,5% (88,1% em julho de 2007). Ele considera possível que haja pressões de curto prazo decorrentes do Nuci alto, principalmente em material de construção, mas não vê nada dramático. Borges lembra que o Nuci se estabilizou no último ano mesmo com a alta da produção.