Título: Empresas recrutam jovens talentos com um perfil global
Autor: Pires , Luíza
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2008, EU & Carreira, p. D14

AmBev, ArcelorMittal, Cargill, GE Celma e Vale foram algumas das 20 companhias que compareceram à semana de recrutamento organizada pelo Instituto Coppead, no Rio de Janeiro. O objetivo das empresas era atrair para seus quadros jovens do conceituado mestrado, interessados em desenvolver carreira internacional e participar de seus projetos no Brasil e no exterior.

A corrida por esses talentos com potencial para "exportação" hoje é grande, principalmente entre as multinacionais. É o caso da ArcelorMittal. A corporação foi criada em 2005 e ainda está desenvolvendo seu perfil. Para construir sua própria cultura, ela acredita que é importante formar equipes com pessoas de diferentes regiões. Prova disso é que em abril deste ano a companhia siderúrgica contratou 91 trainees brasileiros, que serão preparados para atuar fora do país. "Esse é um projeto contínuo", diz a gerente de desenvolvimento, carreira e sucessão, Clarisse Pires e Albuquerque Drummond. A meta da companhia na semana de recrutamentos do Coppead, segundo ela, era encontrar profissionais para preencherem seis novas vagas, em países ainda não definidos.

Na mesma situação está a AmBev. Após a fusão com a belga Interbrew, em 2004, a corporação deparou-se com a necessidade de disseminar a cultura da matriz brasileira para as demais operações. Tanto que hoje existem 134 funcionários do Brasil trabalhando fora do país. Nos últimos quatro anos, a companhia selecionou cerca de 30 profissionais por ano para atuar no exterior. "Procuramos pessoas que entendam e transmitam nossos costumes e práticas de gestão, que precisam ser exportados para outras unidades", explica a gerente de recrutamento e seleção da organização, Renata Brecailo. Na semana de recrutamento do Coppead, o objetivo da Ambev era atrair os alunos para a edição 2008 do seu concorrido programa de trainees, que contrata entre 30 e 35 pessoas anualmente.

Organizada pelos próprios alunos desde 1977, a semana de recrutamento do Coppead é uma oportunidade para as grandes companhias se apresentarem e para os formandos aprenderem como operam seus possíveis empregadores. "É diferente das feiras de estágio, porque o nosso mestrado é semelhante a um MBA fora do país e reúne pessoas mais experientes", explica o organizador desta edição da semana de recrutamento, João Luiz Kuperman. Ele diz que cada vez mais as companhias envolvidas no evento demonstram a intenção de encontrar brasileiros dispostos a mudar de país. Esta tendência já era evidente há dois anos quando o ex-aluno, Jayme Catache, participou do evento. "Ele agora trabalha na Cargill, em Mineápolis, nos Estados Unidos", diz.

A Cargill este ano ofereceu 60 vagas durante o evento, que terminou semana passada. A consultora de recursos humanos e responsável pela área de recrutamento e seleção da empresa, Lucia Suga, diz que foi aproveitou o contato com os formandos para divulgar seu programa de trainee, que começa em breve. "Essas oportunidades são para trabalhar no Brasil, mas a necessidade de migrar para outras unidades pode surgir e por isso a mobilidade para nós é um pré-requisito", destaca Lucia.

Quem também tem vagas abertas e está em busca de mão-de-obra com visibilidade global é a Vale. A companhia enfrenta o desafio de encontrar pessoas para preencher 62 mil vagas nos próximos cinco anos -período que anunciou investimentos da ordem de US$ 59 bilhões-, sendo 32 mil empregos diretos. A gerente de recrutamento e seleção da organização, Hanna Meirelles, explica que a empresa tenta fazer com que a maior parte do quadro de funcionários seja formada por pessoas do próprio lugar, mas que preza também pela diversidade. "Candidatos com 'perfil global´ são considerados mais qualificados, já que uma vaga pode surgir em qualquer país, a qualquer momento", argumenta.

Por isso, além de observar os alunos do Coppead, a Vale participa de encontros em outros centros de ensino de MBA. A companhia também criou oito programas de recrutamento, formação e desenvolvimento. São as chamadas portas de entrada para o Brasil e exterior. Um deles é o programa Global Trainee, que tem 150 vagas abertas e procura pessoas com potencial para se tornarem os futuros líderes da companhia.

O que tanto a Vale como a Cargill, ArcelorMittal e outras grandes organizações sabem, é que visões de pessoas de diferentes partes do mundo podem produzir resultados melhores. "É por isso que temos de estar sempre alertas nessa disputa pelos bons profissionais", avalia Marcelo Soares, presidente da GE Celma- divisão especializada em equipamentos para aviões.

A tendência é observada também pelo professor de empreendedorismo do Ibmec São Paulo e consultor da Mercury Urval, Dirk Thomaz Schwenkow, que recentemente recrutou brasileiros para trabalhar fora do país pela LSG Sky Chefs, fornecedora de comidas para aviões. "Inicialmente era só uma vaga, mas eles gostaram tanto que contrataram mais três profissionais", conta. Ele lembra que a facilidade que os brasileiros têm para atuar em cenários econômicos adversos é bastante valorizada no exterior e os qualifica para trabalhar em qualquer país. "O que as empresas querem são os melhores profissionais, independentemente de onde eles venham".