Título: Aumento dos juros não inibe expansão do crédito
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2008, Finanças, p. C3

Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o aperto da política monetária, alta dos compulsórios e taxação com Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) provocaram o aumento dos juros bancários, mas ainda não foram capazes de produzir uma desaceleração significativa no ritmo de expansão do crédito.

O volume de crédito bancário a pessoas físicas cresceu 32,4% nos 12 meses encerrado em junho, percentual apenas levemente menor do que o avanço de 33,4% observado no ano de 2007. O ritmo é tão forte que o volume de crédito poderá superar os 40% do Produto Interno Bruto (PIB) esperados pelo BC para 2008.

"Quando fizemos a projeção de crédito em 40% do PIB, tomamos como premissa uma expansão do crédito de 24% em 2008", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Em junho, o crédito chegou ao equivalente a 36,5% do PIB, ante 34,7% do PIB em dezembro.

A contratação de empréstimos segue firme apesar da alta dos juros bancários. As taxas médias nas operações com pessoas físicas subiram de 43,9% ao ano em em dezembro de 2007, para 49,1% em junho passado. Em junho, apenas, foi registrada uma alta de 1,7 ponto percentual.

"Os números de junho surpreenderam, em meio às previsões de que poderia haver um esfriamento geral no crédito", disse o economista Philip Wagner, do Unibanco, em analise distribuída ontem. "As condições monetárias mais restritivas deveriam ter começado a desestimular a expansão do crédito, mas, até agora, o crescimento do crédito continua resistente."

Desde janeiro, o governo adotou um conjunto de medidas que, em tese, deveriam ter amenizado o ritmo de expansão do crédito. Primeiro, o Ministério da Fazenda anunciou o aumento da alíquota de IOF sobre empréstimos bancários, de 1,5% para 3,38%. O objetivo da medida era recompor a arrecadação depois do fim da CPMF, mas também provocou o encarecimento do crédito bancário.

Ainda em janeiro, o BC instituiu o recolhimento compulsório sobre captações feitas pelos bancos por meio de empresas de "leasing". Até o próximo ano, a medida deverá retirar R$ 40 bilhões do mercado. Até junho, os bancos já recolheram R$ 7,515 bilhões ao BC. O novo compulsório aumentou os custos de captação dos bancos e os juros cobrados nos empréstimos.

Também a partir de janeiro os juros futuros começaram a subir, antecipando o aperto monetário que, de fato, foi iniciado pelo BC em abril. A alta dos juros futuros contribuiu para pressionar o custo de captação dos bancos, afetando as taxas cobradas dos tomadores finais de crédito.

Apesar de mais caro, o crédito seguiu sua trajetória de expansão. Isso se deve, em parte, à migração entre as modalidades de crédito. O volume de financiamento de veículos cresceu apenas R$ 2,803 bilhões no primeiro semestre. Mas as operações de "leasing" de automóvel, que são isentas de IOF, cresceram R$ 15,377 bilhões no período.

Lopes disse que, embora até agora o impacto tenha sido pequeno, daqui por diante o aperto monetário tende a ter efeitos maiores no crédito. "Os consumidores demoram um pouco para perceber que os juros estão mais altos", afirmou. "Quando tiverem plena consciência disso, a expansão de crédito deve desacelerar."

O crédito a pessoas jurídicas continua a se expandir a taxas robustas. Nos 12 meses encerrados em junho, o volume de empréstimo aumentou 41,3%. O destaque são as operações para capital de giro, que cresceram impressionantes 80,7% no período. "O consumo das famílias continua forte, e as empresas tomam recursos para financiar o giro de mercadorias", afirmou Lopes.

Em junho, apenas, o volume total de crédito avançou 2,1%, considerando empréstimos a empresas e pessoas físicas e o crédito direcionado. O avanço foi um pouco inferior aos 2,6% observados em maio. As comparações mensais, porém, não são muito boas para determinar a tendência porque as estatísticas não estão livres dos fatores sazonais. Em maio, por exemplo, o crédito cresce com mais força por causa do Dia das Mães.