Título: Bunge planeja construir três usinas em Tocantins
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 30/07/2008, Agronegócios, p. B14

A gigante americana Bunge prepara-se para expandir suas operações no segmento sucroalcooleiro. Na cidade de Pedro Afonso, no Tocantins, começou a plantar cana em uma área pequena, de cerca de 2,2 mil hectares. Mas os planos da companhia são mais ambiciosos. A multinacional pretende ampliar os canaviais para quase 100 mil hectares, suficientes para abastecer três usinas de açúcar e álcool que o grupo planeja construir no Estado.

O governo de Tocantins informou que os três projetos de usinas da Bunge devem somar aportes de R$ 1 bilhão, e que a primeira unidade entrará em operação em 2011. A Bunge começou o plantio dos viveiros de cana e criou uma empresa para fazer as contratações de trabalhadores. "A empresa protocolou no início deste ano os projetos de três usinas. E também deverá construir uma esmagadora de soja no Estado", afirmou ao Valor Roberto Saihum, secretário de Agricultura de Tocantins.

Os planos da Bunge para açúcar e álcool não se restringem às fronteiras do cerrado brasileiro. O Valor apurou que a Bunge também tem interesse em ativar o projeto Nova Ponte. Esse projeto foi adquirido pela múlti quando a companhia comprou a usina Santa Juliana, no Triângulo Mineiro, que pertencia ao grupo alagoano Triunfo, em setembro de 2007. Nesse pacote fechado com o Triunfo, além da usina em operação, a compra incluía a construção de uma nova unidade (Nova Ponte), também na região do Triângulo Mineiro.

À época, a Bunge informou que não tinha interesse em tocar essa segunda usina. Tradicional em grãos, a empresa também opera desde fevereiro de 2006 uma trading de açúcar no país. A interlocutores ouvidos pelo Valor, Carlo Lovatelli, diretor da Bunge no país, confirmou a estratégia da empresa em avançar no mercado brasileiro de açúcar e álcool nos próximos anos. Procurados, Bunge e Lovatelli não comentaram as informações.

A entrada da Bunge na produção de açúcar e álcool ocorreu somente no ano passado, muito tempo depois que outros grupos nacionais e estrangeiros anunciaram - e desistiram no meio do caminho - a construção e a compra usinas. De acordo com fontes do setor, o grupo "perdeu o timing". Outros especialistas, no entanto, defendem que o atual momento de investimentos nesta área é oportuno, já que a euforia com o "boom" de anúncios nesse segmento passou.

Fontes do segmento afirmaram que os investimentos em cana-de-açúcar em Tocantins podem ser mais caros, considerando que o plantio de cana tem de ser irrigado. O Estado tem apenas duas usinas sucroalcooleiras - e uma delas ainda não entrou em operação. A área plantada com cana ocupa cerca de 9,2 mil hectares no Estado, incluindo os viveiros da Bunge, segundo informou o secretário Sahium.

Apesar das críticas, o Estado é considerado a nova fronteira e pode se tornar atraente para escoamento da produção pela ferrovia Norte-Sul. "A produtividade com a cana irrigada chega a 120 toneladas por hectare. Mas trabalhamos com a média do centro-sul, de 85 toneladas médias", afirmou o secretário. O Estado oferece isenção de recolhimento de ICMS por 15 anos. "Cada caso é um caso. Analisamos cada empresa e concedemos o incentivo fiscal para que m tem interesse em se instalar no Estado." De acordo com Sahium, o grupo ainda não definiu como serão os investimentos em soja.