Título: Analistas esperam crescimento de até 6,7% na indústria no primeiro semestre
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2008, Brasil, p. A5

A atividade industrial brasileira encerrou o primeiro semestre com crescimento forte, mas mais moderado que no segundo semestre de 2007, quando a produção registrou incremento de 7,1%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para os primeiros seis meses deste ano, economistas estimam aumento entre 5,6% e 6,7% em comparação com o mesmo intervalo do ano passado. Mesmo a previsão mais otimista indica uma ligeira redução no ritmo de expansão da produção industrial. O IBGE divulga levantamento nesta sexta-feira.

Em junho, contudo, indicadores sinalizaram aumento da produção, compensando a queda de 0,5% registrada em maio na comparação com o mês anterior. A redução foi provocada sobretudo pelo menor número de dias úteis - 20 neste ano, ante média de 21 a 22 dias em anos anteriores - em função do feriado de Corpus Christi. Junho, por sua vez teve 22 dias úteis, dois a mais que a média. "O dado de junho vai ser inflado por essa diferença de dias e pela produção de bens de capital, que deve mais do que compensar a queda registrada em maio", avaliou Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, que prevê para o mês aumento de 6,4% em comparação com junho de 2007, e de 2,8% sobre maio, com ajuste sazonal.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, também acredita que a produção de bens de capital será mais forte em junho, mas estima para o mês um incremento menor na produção da indústria, de 1% sobre maio. Em maio, o setor de bens de capital foi o principal responsável pela redução no ritmo de crescimento, com expansão de 5,8%, diante de índices em meses anteriores acima de 20%. "A expectativa é de um resultado mais forte, mas se os dados de junho forem fracos, teremos um sinal claro de que a desaceleração da economia começou", afirmou. Para Vale, que estima para o primeiro semestre expansão de 6,7% na produção industrial e de 5% no ano, a política monetária mais apertada deve contribuir para a desaceleração da atividade industrial no terceiro e no quarto trimestres.

Borges, da LCA, também cita o crescimento menor das exportações por conta do desaquecimento da economia mundial e o aumento dos estoques industriais como indicativos de desaceleração da atividade industrial no segundo semestre.

"O ritmo de crescimento vai diminuir gradativamente, sem ruptura", avaliou Cristiano Souza, economista do ABN Amro Real, para quem os efeitos da política monetária sobre a indústria só serão visíveis a partir de outubro. O banco estima para o primeiro semestre crescimento de 5,6%, com crescimento de 2,6% em junho ante maio. A projeção baseia-se em indicadores como incremento de 5,9% na produção de veículos, elevação de 1% no fluxo de veículos pesados e de 2% na expedição de papelão e papel ondulado. A Tendências Consultoria Integrada, que utiliza indicadores semelhantes, estima para junho expansão de 2,9% na produção.

A sondagem industrial, feita em 1.488 empresas e divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), confirma as previsões dos economistas. Conforme o levantamento, o indicador de evolução da produção ficou em 56,5 pontos no segundo trimestre, acima do registrado no primeiro trimestre (52,2 pontos) e no mesmo intervalo de 2007 (56,2 pontos). O nível de utilização da capacidade instalada foi de 77%, dois pontos percentuais acima do verificado nos três primeiros meses do ano.

Para Flávio Castelo Branco, gerente de política econômica da CNI, a evolução do indicador do nível de estoque de 49,5 pontos para 50,6 entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano foi o único indicativo fora do padrão. "Por enquanto, esse foi o único indicador de que a atividade industrial poderá ser mais moderada no segundo semestre. Os indicadores de demanda [61,2 pontos], compra de matérias-primas [59,4 pontos] e empregados [54 pontos] permanecem altos e acima do verificado no primeiro trimestre."