Título: Contêiner torna-se alternativa a exportador
Autor: Rodrigues , José
Fonte: Valor Econômico, 01/08/2008, Empresas, p. B8

Efeitos da alta dos combustíveis nos fretes marítimos de navios graneleiros, demanda chinesa, dólar enfraquecido e busca de resultados respondem por um novo elo da cadeia de transportes, até há pouco tido como "inimaginável" pelos operadores do setor. Alguns tipos de minérios, que historicamente eram embarcados a granel, como o de ferro e um de seus derivados, o ferro-gusa, agora cruzam os mares em contêineres. Esse novo mercado na chamada indústria de contêineres, que envolve toda a sua cadeia logística, dá apoio à indústria mineradora e siderúrgica, bem como aos operadores portuários que vêem seu negócio ameaçado pela queda das exportações em geral e o avanço do mercado interno.

No caso do minério tipo fino, o mais baratos dos tipos de produtos, o frete em contêineres custa mais que o valor da carga. A alternativa, iniciada a título experimental, começa a ganhar corpo. "O contêiner veio para ficar, se mantidos esses níveis de fretes", sustenta Sandoval de Castro, gerente de exportação da Minas Metais, de Belo Horizonte, que faz o equivalente a 70% dos embarques de gusa do setor. O porto de Santos, que exportou apenas 2.750 toneladas de minério de ferro em 2007, no primeiro semestre já multiplicou por dez esse volume, para 27.428 toneladas.

Conforme o porto de embarque, o minério é transportado em caminhões ou vagões e com utilização de uma pá-carregadeira de pequeno porte (Bobcat) é acondicionado em contêiner de 20 pés. A Siderúrgica Santo Antonio (Sidersa), de Itaúna, no quadrilátero ferrífero de Minas, embarca, por mês, 2 mil contêineres, a maioria para a China, dos quais 1.600 são de ferro-gusa (resultado imediato da fundição do minério de ferro com carvão e calcário em alto forno) e 400 de fino de minério. Ana Paula Parreiras Dornas, co-proprietária da Sidersa, que também atua em transportes, revela que iniciou os embarques em contêineres há seis meses. "A tonelada do minério (fino), hoje, vale entre US$ 30 e US$ 32, sobre os quais se somam custos logísticos de mais de US$ 50 por esse tipo de transporte. O frete marítimo para o contêiner é de US$ 80 a US$ 90 a tonelada, ou US$ 2.295 no total das 27 toneladas de um contêiner de 20 pés. No sistema granel custaria US$ 3.240", diz.

Ana Paula explica que o crescimento das importações brasileiras, principalmente da Ásia, fez com que sobrassem contêineres vazios no país. Para não voltarem 'batendo lata', no jargão do mercado, os armadores baixaram os fretes de retorno, abrindo o mercado para os minérios.

A Minas Metais, um holding com 14 empresas associadas, envia para o exterior entre 400 e 500 contêineres por mês de ferro-gusa (em formatos de tijolinhos de 8 Kg), com destaque para a Ásia (Taiwan) e Europa (portos de Roterdã e Antuérpia). É usado como matéria-prima para fundições em geral, inclusive da indústria automobilística.

Segundo Sandoval de Castro, o custo para uma venda em Taiwan é de US$ 1 mil, incluído o frete. Se embarcado em contêiner de 27 toneladas, o frete será de US$ 1.300, ou US$ 48 por tonelada. Se em navio graneleiro, custaria US$ 120. "Há uma grande diferença de custo de logística interna entre um embarque a granel e o feito em contêiner, neste, muito mais caro, mas o resultado final é compensador", diz o gerente de exportação.

Os três maiores terminais de contêineres em Santos já trabalham com minérios e gusa desde 2007. Todos fizeram adaptações e adquiriram equipamentos especiais para a operação, a exemplo de pás carregadeiras. "É muito boa essa nova carga, pois a exportação do Brasil, no geral, não está crescendo, pelo menos em Santos. Vem ajudar e não fazemos mais porque faltam contêineres de 20 pés, pois boa parte do que vem da Ásia é de 40 pés", reconhece Antonio Carlos Duarte Sepúlveda, diretor de operações da Santos Brasil. O terminal está embarcando cerca de 500 contêineres por mês de minérios, que chega em caminhões. O acondicionamento do produto na caixa metálica é feito com pás carregadeiras.

Alan Lear, diretor de logística da Libra Terminais, calcula que a empresa também embarque cerca de 500 contêineres mensais de minérios, com apoio de seu terminal em Cubatão (SP), onde a carga chega do interior em caminhões basculantes e é embarcada nos cofres metálicos. "Essa nova carga está substituindo outras que declinaram, como de autopeças e industrializadas em geral. Há algum tempo era inimaginável embarcar minério em contêiner", comenta.

Para o Tecondi, terceiro maior terminal de contêineres em Santos, as operações com minérios, iniciadas este ano, mesmo não sendo o foco de operação da empresa, abrem novas oportunidades de negócios. "Iniciamos essas operações em janeiro, com movimentação média de 90 contêineres de 20 pés por mês, com destinos principais ao México e Colômbia, e segundo informações das principais tradings, inicia-se forte demanda para o mercado chinês", anuncia Carlos André Costa, gerente de vendas do Tecondi. Neste terminal, a variedade de minérios e metais é ampla: óxido de alumínio, metalonita, ferro-níquel e manganês.

A Codesp, administradora do porto de Santos, contabiliza elevado crescimento de cargas padronizadas, historicamente exclusivas de navios graneleiros, transferidas, em parte, para contêineres. Nos exemplos do minério de ferro e do manganês, a empresa, em 2007, apurou embarques de 2.750 toneladas de minério de ferro e 156 toneladas de minério de manganês, números que saltaram, respectivamente, para 27.628 toneladas e 2.497 toneladas no primeiro semestre de 2008.

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