Título: Produtores querem elevar barreira a vinho argentino
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2008, Brasil, p. A2

Os produtores brasileiros de vinho querem aumentar de US$ 8 para US$ 22 por caixa com 12 garrafas o valor mínimo para a entrada do produto argentino no mercado nacional. Hermes Zaneti, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Viticultura, Vinhos e Derivados, disse que o reajuste (de 175%) visa compensar as variações cambiais de ambos os lados da fronteira desde julho de 2005. Naquele mês foi assinado o acordo setorial da cadeia vitivinícola, em vigor até hoje.

Neste período, a Argentina ganhou espaço no mercado brasileiro. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, o Brasil importa 25 milhões de garrafas de vinho por ano, dos quais 9 milhões compradas da Argentina. De acordo com Zaneti, nos últimos dois anos o real valorizou-se 34% frente ao dólar, enquanto o peso argentino teve desvalorização de 9%, o que desequilibrou a relação de preços, tornando os vinhos argentinos mais baratos no Brasil e prejudicando a indústria local.

A proposta será levada aos representantes da cadeia vitivinícola argentina nos próximos dias. Para não configurar uma simples barreira ao produto argentino, a proposta brasileira incluirá a definição, em conjunto com os três países-membros do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai), de um valor fixo mínimo para a importação de vinhos de terceiros países fora do bloco.

Também será pedida a revogação de um acordo entre o Brasil e o Chile, assinado no governo Fernando Henrique Cardoso, que derruba os impostos de importação de ônibus brasileiros no Chile, em troca de igual tratamento para os vinhos chilenos no Brasil. Para Zaneti, a proposta brasileira beneficia a Argentina em relação à concorrência dos vinhos chilenos no mercado brasileiro. "Em contrapartida, queremos que a Argentina se autolimite e mande ao Brasil apenas os bons vinhos", disse Zaneti, referindo-se aos mais caros.

A discussão foi levada à reunião mensal da Comissão de Monitoramento do Comércio Bilateral Brasil-Argentina realizada ontem em Buenos Aires. Os secretários Fernando Fraguio, da Argentina, e Ivan Ramalho, do Brasil, devolveram a questão aos empresários para que eles discutam primeiro entre eles e levem uma proposta fechada de acordo na próxima reunião, marcada para 8 de setembro em Brasília.

Na reunião de ontem o governo argentino anunciou que vai liberar mais 500 mil toneladas de trigo para exportação ao Brasil este ano.