Título: DEM cola campanhas municipais a especialista colombiano em violência
Autor: Jungerfeld , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2008, Política, p. A8

Ao descer do avião em Florianópolis, o sociólogo colombiano Hugo Acero disse: "Mas que problema pode existir nesta cidade? É um paraíso". Acero, consultor para a área de segurança pública da Organização das Nações Unidas (ONU) e reconhecido pela transformação na segurança pública de Bogotá e Medellin, participou na segunda-feira à noite de um evento de campanha do candidato à Prefeitura de Florianópolis César Souza Jr (DEM). Ainda que segurança não seja um problema tão grave na cidade, Acero sugeriu ações preventivas, que podem ser executadas pelo poder municipal.

Foi a segunda parada do sociólogo, depois do Rio Grande do Sul, onde participou de evento similar para a candidatura de Onyx Lorenzoni (DEM), candidato em Porto Alegre. E foi o segundo de uma agenda cheia, vinculada ao Democratas.

Depois de Florianópolis, Acero foi a Blumenau e Joinville, onde o DEM tem os candidatos João Paulo Kleinubing e Darci de Matos, e nesta quarta-feira faz palestra na Fundação Armando Álvares Penteado, a convite de diversas entidades, como a Associação Comercial de São Paulo, e a Fundação Liberdade e Cidadania, ligada ao Democratas. De SP, seguirá para Salvador em evento da candidatura de Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) e de lá para Belém, em promoção da candidata Valéria Franco (DEM).

O sociólogo explica que não veio ao Brasil para pedir votos para o Democratas, embora tenha gravado considerações gerais do tema segurança pública para o programa de tevê de Souza Jr., tenha deixado sua palestra ser proferida ao lado do símbolo do partido e do número 25, que remete ao candidato, e ter posado para fotos ao lado do candidato. Acero afirma que seu papel é expor sua experiência na área de segurança na América Latina e teria vindo por convite de qualquer outro partido. "O tema segurança não é um problema de partido. Este não é um problema nem de direita, nem de esquerda, nem de centro. É um problema dos cidadãos. Já trabalhei com governos liberais e conservadores e não pertenço a nenhum deles".

O sociólogo, que comandou a segurança de Bogotá de 1995 a 2003, já esteve no Brasil diversas vezes. Destaca que já foi convidado do PSDB e do PMDB do candidato à Prefeitura do Recife, Raul Henry.

Acero disse que não conhecia os problemas de segurança de Florianópolis. "Não creio que existam problemas graves, mas estou certo de que aqui se vende droga como em São Paulo ou Rio ou Bogotá. Aqui pode não ter problemas graves agora, mas nada garante que no futuro os problemas não sejam maiores". A palestra de Acero em Florianópolis, assistida por 90 pessoas, teve dicas do que pode ser feito em âmbito municipal no combate à violência.

Acero propôs soluções de planejamento urbano, como investimentos em infra-estrutura de transporte (como o famoso teleférico de acesso aos morros de Medellin), iluminação pública, asfalto de vias, construções de calçadas e passeios públicos, além de ações como fechamento de rua para uso da bicicleta aos fins de semana, construção de quadras, parques e bibliotecas públicas nas periferias. Afirmou, contudo, que é necessário o desenvolvimento social juntamente com infra-estrutura policial (tarefa que no Brasil cabe aos Estados). Em Bogotá, espalhou postos policiais, inclusive nos morros, e fez um trabalho intenso na polícia.

Acero pregou que Estados e municípios sejam em conjunto responsáveis pelo tema. "É preciso que os prefeitos assumam também a responsabilidade da segurança porque estão mais perto dos problemas. Em Estados com 500 municípios, se o governador visitar cada um dos municípios, em dois anos só visitará uma vez cada um. É impossível conhecer o problema de cada lugar. É preciso compartilhar a responsabilidade com o Estado. A polícia não faz asfalto, iluminação ou calçada".

Ao longo da palestra, Acero elogiou o trabalho de segurança no Estado de São Paulo, dizendo que a atuação em conjunto das polícias levará a bons resultados, e criticou o programa de Belo Horizonte, que melhora casas nas favelas (transforma barracos em casas de alvenaria mais estruturadas), mas não leva toda a infra-estrutura necessária ao seu entorno, como postos policiais.

A pergunta mais relevante ao sociólogo partiu de um PM, Eduardo Senna, que queria saber o papel da iniciativa privada para melhorar a segurança em Bogotá. Acero disse que o setor privado criou uma unidade de análise de estatísticas sobre segurança, com informações periódicas, porque o comércio, principalmente, também perdia dinheiro com a violência, e contribuiu com impostos, sendo 10% da receita recolhida destinada a investimentos na segurança no local onde o tributo foi recolhido, e 90% nas demais áreas.