Título: Cenário melhora para as aéreas
Autor: Campassi , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2008, Empresas, p. B4

As companhias aéreas brasileiras Gol e TAM voaram alto na Bovespa, ontem, ajudadas pela queda do petróleo e perspectivas mais positivas da aviação na América Latina. As ações da Gol, vice-líder de mercado, tiveram a maior alta em pouco mais de dois anos, de 16,18%, para R$ 19,10. Os papéis da TAM, líder do mercado, subiram 7,21%, para R$ 34,20. Em comparação, o Ibovespa subiu 1,55%.

O movimento de alta também foi registrado na Europa. O índice de companhias aéreas européias da Bloomberg teve a maior valorização em seis anos, de 7,4%. As ações que mais se destacaram foram as das empresas de baixas tarifas Ryanair e EasyJet, mais suscetíveis ao preço do petróleo por terem políticas de hedge (proteção) mais fracas.

A Air France-KLM também se valorizou ao reportar ontem um lucro do primeiro trimestre que excedeu as estimativas de analistas, apesar de ter caído 60% em relação ao ano anterior - a empresa lucrou ? 168 milhões, sobre vendas de ? 6,3 bilhões entre abril e junho. A espanhola Iberia, por sua vez, registrou lucro de ? 21,1 milhões, 66% menor do que no mesmo período de 2007, mas também acima das expectativas.

"A queda dos preços do petróleo abre caminho para uma recuperação mais forte dos papéis das companhias aéreas", disse Ricardo Tadeu Martins, analista sênior da Planner Corretora em entrevista à Bloomberg. Cerca de 40% dos custos das empresas de aviação são representados pelo combustível, um derivado do petróleo.

Ontem, a cotação da commodity cedeu pelo segundo dia consecutivo, ainda sob influência das expectativas de recuo da demanda pelo produto, por conta da desaceleração das economias americana e européia. O barril do WTI, negociado para setembro, caiu US$ 2,24, para US$ 119,17. O Brent, por sua vez, registrou baixa de US$ 2,98, para US$ 117,70. São cerca de US$ 30 a menos desde que o petróleo alcançou um preço recorde US$ 147,3 no dia 11 de julho.

No caso da Gol, a alta acentuada de ontem foi interpretada como um tipo de correção à desvalorização intensa que a empresa sofreu nos últimos meses - a queda acumulada no ano é de 56%. "Os resultados da Gol ainda serão afetados pelos preços do petróleo, mas as ações caíram demais", diz Martins. A analista Daniela Bretthauer, do Goldman Sachs, também relaciona a alta de ontem a uma compensação pelas perdas recentes. Martins cita ainda, como parte da explicação, as medidas que a Gol tomará para integrar a subsidiária Varig e obter sinergias e as ações para poupar combustível, como o desligamento de um dos motores das aeronaves após os pousos.

Para Carlos Eduardo Lucato, da corretora do banco Santander, as aéreas brasileiras também podem ter sido beneficiadas por um relatório da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) divulgado na segunda-feira. Ele mostrou que o tráfego aéreo na América Latina, em junho, subiu 12,5%, a maior taxa entre todos os outras regiões pesquisadas. Em comparação, o tráfego de junho no mundo cresceu apenas 3,8%, o menor para o mês em cinco anos. "Os investidores estrangeiros que gostam de investir em companhias aéreas podem ter sido influenciados por essa informação", afirma Lucato.