Título: Argentina tenta estimular investimento em autopeças
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 06/08/2008, Empresas, p. B6
O crescente déficit na balança comercial do setor de autopeças entre o Brasil e a Argentina se transformou em um dos maiores desafios para os dois governos. Recuperada da crise de 2002, a indústria automobilística argentina conseguiu reativar seu parque de produção de automóveis, que este ano deve bater o recorde com mais de 600 mil carros fabricados e vendidos, a maior parte (cerca de 80%) para o Brasil.
O problema é que para vender cada vez mais ao Brasil, a Argentina está importando cada vez mais autopeças do vizinho porque sua indústria de componentes quase desapareceu na crise. A Associação Argentina de Fábricas de Componentes (Afac) divulgou, no início de julho, uma estimativa de que, até o fim de 2008, a importação de autopeças vai atingir US$ 7,4 bilhões, para exportações de US$ 2,5 bilhões. Ou seja, o setor vai registrar um déficit de US$ 4,9 bilhões, o mesmo valor do déficit total da balança comercial da Argentina com o Brasil registrado em todo ano de 2007.
O setor automotivo já responde por 40% do comércio entre Brasil e Argentina, segundo informou ontem o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho. Como o comércio está apontando para atingir US$ 30 bilhões em 2008, automóveis e autopeças vão movimentar US$ 12 bilhões.
De olho no crescimento da economia brasileira, as montadoras continuam investindo na produção e lançamentos, aproveitando as vantagens da Argentina em relação ao Brasil, principalmente o câmbio favorável e os custos de produção mais baixos. Depois da Fiat, que reativou em junho sua fábrica em Córdoba, a Ford e a PSA Peugeot Citroen já distribuem convites para o lançamento oficial de novos modelos a serem produzidos em suas unidades de Pacheco e El Palomar, respectivamente, ambas na província de Buenos Aires. Já no setor de autopeças o volume de investimentos tem sido escasso.
O déficit da Argentina é um problema não só para os argentinos, mas também para o governo brasileiro que se comprometeu a ajudar o principal sócio do Mercosul a reduzir o crescente resultado negativo na balança comercial bilateral. Só no primeiro semestre de 2008, as importações argentinas de produtos brasileiros foram US$ 2,7 bilhões superiores as exportações. Comparado ao mesmo período do ano passado, o déficit cresceu 50%.
"Esperamos um aumento dos investimentos das indústrias brasileiras de autopeças na Argentina com o novo acordo automotivo do Mercosul", afirmou Ramalho, referindo-se à renovação do regime automotivo por seis anos, anunciada há dois meses pelos dois países.