Título: Exportação do Brasil sobe 514% desde 2002 e leva investimentos
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2008, Brasil, p. A4

A Argentina que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de visitar com uma missão de centenas de empresários é mais que um dos principais parceiros comerciais do Brasil: é o mercado para o qual o Brasil mais aumentou exportações, em termos absolutos, entre 2002 e dezembro de 2007. Foram US$ 12 bilhões a mais em vendas do que em 2002. Mas é a crescente importância dos investimentos brasileiros no mercado argentino o que mais desperta a curiosidade do próprio governo, que busca, ainda, dados confiáveis sobre a dimensão desses projetos no país vizinho.

Um levantamento informal e ainda incompleto realizado pelo governo brasileiro constatou que empresas brasileiras detêm, hoje, quase um quinto do setor siderúrgico argentino, 42% do setor de cimento, pouco mais de um quarto do têxtil, cerca de 40% do setor de calçados, 38% da produção de alimentos, quase 30% da indústria de carne. Se a belgo-brasileira Ambev for contabilizada na conta do capital verde-amarelo, quase 40% da vizinha indústria de bebidas está em mãos brasileiras. A valorização do real facilita as iniciativas das empresas do Brasil que têm no mercado da Argentina um alvo ideal para internacionalizar as atividades.

Os investimentos anunciados pelos brasileiros na Argentina (somando a compra da cervejaria Quilmes, pela Ambev) entre 2002 e 2007 chegam a US$ 14,6 bilhões, segundo o governo brasileiro. Nesse período, segundo o Banco Central argentino, o investimento estrangeiro direto com origem no Brasil aplicado na Argentina somou pouco menos de US$ 5 bilhões. Só em 2007 quase 55% dos mais de US$ 2,2 bilhões investidos foi usado em aquisições de firmas já existentes e pouco menos de 32% em empreendimentos novos. O restante foi destinado a ampliação de instalações, joint-ventures e contratos de terceirização.

Há enorme preocupação, por parte do governo Lula, de evitar que essa ocupação de mercado seja recebida como uma "invasão" pelos argentinos, que se queixam ao governo de Cristina Kirchner da falta de instrumentos de apoio à indústria como o BNDES. Os empresários que acompanharam Lula foram orientados a concentrar conversas em oportunidades de associação com firmas locais.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a quem o governo pediu ajuda na organização da viagem, tem planos para uma nova missão comercial a Buenos Aires em setembro, em que haverá reuniões com possíveis parceiros em investimentos na Argentina.

Em termos proporcionais, a Argentina também foi o país, entre os 15 maiores parceiros comerciais do Brasil, que mais aumentou as compras de produtos brasileiros - 514% - entre os anos de 2002 e 2007. Neste ano, no primeiro semestre, o aumento nas exportações foi de quase US$ 2 bilhões, 36% acima do valor registrado no mesmo período de 2007 - as importações também cresceram, pouco menos de US$ 1,5 bilhão, e o aumento foi insuficiente para reduzir o enorme superávit comercial dos brasileiros com a Argentina, que, entre janeiro e julho, acumula US$ 3 bilhões em favor do Brasil. Nos últimos três anos, esse saldo ficou em torno de US$ 4 bilhões.

O comércio com a Argentina é um dos mais vigorosos e o crescimento do saldo em favor do Brasil persiste, apesar dos esforços do governo para estimular um maior volume de compras no mercado vizinho. Nos últimos dois anos, o saldo comercial do Brasil com o mundo caiu 42%, mas tem crescido com os países do Mercosul, especialmente com a Argentina. O saldo com os vizinhos equivale a um quinto de todo o superávit comercial de US$ 11,3 bilhões do Brasil, no primeiro semestre.

Os atritos comerciais que permanecem, em setores como calçados, eletrodomésticos da linha branca e trigo, têm sido negociados e mantidos na esfera técnica, em comissões de monitoramento do comércio. Diferentemente do passado, pelo menos por enquanto, as disputas e divergências não chegam mais aos palácios de governo, e as queixas de empresários, como os moinhos de trigo brasileiros, prejudicados pelas distorções de custos na comercialização do trigo argentino, deixaram de azedar os encontros presidenciais entre os dois principais sócios do Mercosul.