Título: Vendas da indústria sobem 8,4% até junho
Autor: Jurgenfeld , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2008, Brasil, p. A6

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) acredita que ocorrerá um desaquecimento da economia brasileira nos próximos meses. O gerente da unidade de pesquisa, avaliação e desenvolvimento da CNI, Renato da Fonseca, disse ontem, em Florianópolis, na sede da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), que espera um arrefecimento do crescimento econômico, principalmente por conta do aumento da taxa de juros realizado em julho pelo Banco Central, que elevou a Selic em 0,75 ponto percentual para 13% ao ano.

"O aumento afeta a expectativa de venda dos empresários e os investimentos futuros da indústria, por isso espero um arrefecimento. De quanto ele vai ser eu ainda não posso precisar", disse Fonseca, citando a recém-divulgada Ata do Copom, onde ficou claro que o BC vê ainda pressões inflacionárias e deverá continuará com a política contracionista. "O empresário ainda é otimista, mas não tanto quanto era antes", acrescentou.

Um cenário menos favorável neste segundo semestre do ano para o setor industrial vai se contrapor ao acelerado ritmo de crescimento constatado ao longo dos primeiros seis meses do ano. Dados divulgados ontem pela CNI mostram que em junho houve aumento do faturamento real da indústria de 2% em relação a maio (dados dessazonalizados), interrompendo uma trajetória de queda de 0,2% apresentada em maio. "Até nos surpreendeu", disse Fonseca, que esperava continuidade do esfriamento visto em maio. O emprego cresceu 0,5% na indústria em junho e as horas trabalhadas cresceram 1,5% em relação ao mês anterior. A massa salarial real foi o único indicador que recuou: 0,3%.

Na situação semestral, os dados são ainda mais positivos. Mostram que o faturamento real cresceu 8,4%, as horas trabalhadas aumentaram em 5,9%, o empregou cresceu 4,4% e a massa salarial real aumentou 5,6%, sempre em relação ao mesmo período do ano passado. E isso ocorreu com pouco aumento no uso da capacidade instalada: de 82,2% em junho de 2007 para 83,3% em junho passado.

De acordo com a CNI, o ritmo de expansão do faturamento foi puxado por três setores: veículos automotores, que cresceram 24,4% no semestre, material elétrico e de comunicação (alta de 23%) e ainda a categoria chamada outros equipamentos de transportes, que cresceu 20,1%. Os dois únicos setores que apresentaram recuo no faturamento real no semestre foram: madeira (queda de 8%) e produtos químicos (recuo de 8,6%)

Fonseca disse que o incremento da inflação foi o principal motivo para que a massa salarial apresentasse retração em junho e ele acredita que esse recuo terá continuidade nos próximos meses com a continuidade da pressão de preços. Além da inflação, pesou neste indicador o fato de que os salários recebidos pelos trabalhadores em junho refletem o pagamento de horas trabalhadas em maio, mês em que houve acomodação da atividade industrial.

O economista da CNI também citou como preocupações para os próximos meses a forte pressão de custo de matérias-primas, que vem afetando as margens de lucro das indústrias, e o fato de que muitas empresas não têm conseguido repassar essa pressão aos preços no mercado nacional pela forte competição com importados, dada a valorização do real ante o dólar.

Os dados semestrais da CNI corroboram o que indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já haviam demonstrado na semana passada. A indústria nacional, segundo o IBGE, fechou o primeiro semestre com a maior taxa de expansão desde 2004 por conta do desempenho da produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis. A produção industrial cresceu 2,7% em junho frente a maio, e expansão de 6,3% no primeiro semestre.

Apesar de um cenário mais difícil no segundo semestre, as previsões econômicas da CNI para o ano ainda não foram revisadas. A projeção mais recente para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano segue de 4,5%, do PIB industrial é de 5% e a projeção de inflação é de 6,7%.