Título: Espelho d'água com problemas
Autor: Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2011, Política, p. 5

Quem visitar hoje o Palácio do Planalto e ver o espelho d¿água vazio pode até pensar que se trata de uma manutenção de rotina. Nada disso. Seis meses depois de ter sido reinaugurada após as obras de restauração que custaram mais de R$ 100 milhões aos cofres públicos, a sede do Executivo brasileiro, onde despacha a presidente Dilma Rousseff, segue com problemas. O espelho d¿água, que sofreu nova impermeabilização durante as obras, apresenta vazamentos, sendo que parte do concreto, localizado ao lado da rampa de acesso principal ao palácio, cedeu. Além disso, o local onde estão instaladas as novas escadas de emergência ainda passa por reparos e, quando chove forte, o subsolo alaga. ¿É inaceitável e espantoso que seis meses depois esteja ocorrendo esse tipo de problema¿, avalia o professor Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB).

A restauração durou um ano e três meses e teve sua data de conclusão adiada por mais de uma vez. As obras foram executadas pela empresa de engenharia Porto Belo e estavam sob a responsabilidade do Exército. Na parte externa, as pedras portuguesas, por exemplo, foram trocadas e a área do espelho d¿água recebeu nova impermeabilização. Na verdade, o espelho não existia no projeto original de Oscar Niemeyer, elaborado na época da construção de Brasília, mas teve de ser construído por questão de segurança. O objetivo é evitar que pessoas sem autorização entrem no palácio, como já ocorreu algumas vezes. Foi construído em 1991 e se estende pela frente e pela lateral direita do prédio. São quase 2 mil metros cúbicos de água com uma profundidade de 1,1m repletos de carpas coloridas japonesas. Os peixes foram transferidos pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para a Granja do Ipê, no Park Way.

Restauração Na avaliação do professor Frederico Flósculo, os problemas no Planalto são espantosos. ¿Existe um procedimento chamado recebimento de obras que é feito por uma equipe técnica, responsável por examinar tudo o que foi feito. Por um preço desse de primeiro mundo ¿ mais de R$ 100 milhões ¿ a obra deveria ser de primeiro mundo¿, lamenta.

¿A impermeabilização de espelhos d¿água é relativamente simples. Se bem feita, dura até três décadas, e não alguns meses. Como foi inaugurado durante o governo Collor (começo da década de 1990), estava mesmo na hora de passar por uma reforma. Mas, com esse vazamento, se tratou de uma obra imperfeita¿, critica. Procurada no fim da tarde de ontem, a assessoria de comunicação da Secretaria-Geral da Presidência da República, responsável pela administração do Planalto, informou que será feito um ¿reparo durante o período de carnaval¿ no espelho d¿água.

Foi a primeira vez em sua história que o Palácio do Planalto, inaugurado em 21 de abril de 1960, passou por obras de restauração. O projeto foi desenvolvido pelo escritório do arquiteto Oscar Niemeyer, também responsável pelo desenho original do palácio. A previsão inicial era de que tudo estaria pronto para a comemoração dos 50 anos de Brasília em 2010, o que acabou não ocorrendo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na época, ficou desestimulado com os atrasos e acabou desistindo da ideia de realizar uma solenidade especial para marcar a reinauguração do prédio.

Dilma em Natal Depois das primeiras semanas de trabalho marcadas por negociações políticas com o Congresso, a presidente Dilma Rousseff resolveu descansar em Natal (RN) com a família. Ela vai passar o carnaval hospedada no hotel de trânsito do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, da Aeronáutica, acompanhada da filha, Paula; do genro, Rafael Covolo; do neto, Gabriel; e da mãe, Dilma Jane.

A ordem aos militares é dar privacidade total à presidente durante a estada na capital do Rio Grande do Norte, mantendo-a longe dos holofotes. Lá, ela poderá tomar banho de sol e de mar sem ser incomodada, já que o centro de lançamento tem uma praia reservada. Não haverá agenda oficial. Nenhuma visita está marcada. É a primeira vez que um presidente decide descansar na Barreira do Inferno.

O local passou por um reparo geral antes de receber a família presidencial. O Ministério da Aeronáutica instalou equipamentos de internet e barreiras de segurança para evitar a entrada de curiosos. A Barreira do Inferno tem oito quilômetros quadrados e está localizada entre a praia da Ponta Negra, a mais famosa de Natal, e o Cotovelo, também próxima de pontos turísticos como o Morro do Careca e o maior cajueiro do mundo. A área será patrulhada num esquema de segurança que envolve Polícia Militar, Aeronáutica e Marinha. Soldados estão espalhados numa longa extensão de dunas e falésias.

Antes de decidir para onde iria no carnaval, a presidente pensou em viajar para a ilha de Fernando de Noronha, onde a Aeronáutica tem uma casa, onde se hospedaram os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. No ano passado, Lula passou o carnaval em Brasília, sem compromissos oficiais.

O desembarque de Dilma ocorreu na Base Aérea de Natal, de onde a comitiva seguiu de helicóptero até o centro de lançamento. O local ficará fechado para visitação até a próxima quarta-feira, data em que a presidente deve retornar a Brasília. (LK)