Título: Aos cinco anos, Gávea abre novo fundo de US$ 1,2 bi
Autor: Vieira , Catherine
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2008, Finanças, p. C3

Armínio: "O país está mais empreendedor, e isso gera uma energia fantástica" Para comemorar os cinco anos que completa neste mês, a Gávea Investimentos, gestora de recursos fundada pelo ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga e por seu sócio Luiz Fraga, vai lançar o terceiro fundo de participações em negócios, o Gávea Investments III, com US$ 1,2 bilhão para investir. Com isso, explicam os sócios-fundadores, a Gávea atinge US$ 7,5 bilhões de patrimônio total sob gestão, distribuídos entre as áreas de hedge funds, gestão de patrimônio e fundos de participações de longo prazo ou private equity.

O Gávea III vai buscar empresas com grande potencial, mas que ainda não sejam grandes o suficiente ou prontas para a abertura de capital com oferta inicial de ações na bolsa (IPO, na sigla em inglês). Para o ex-presidente do BC, com o mercado de IPOs mais fechado, o cenário para um fundo como o G III - como é chamado pelos sócios - fica mais do que propício. "Houve um momento em que o mercado estava aceitando IPOs muito pequenos, mas com a virada de humor deixou de fazer sentido, se é que fez em algum momento, abrir capital de empresas de uma escala relativamente pequena. É justamente esse nicho que nós estamos buscando", disse Armínio Fraga.

O lançamento do fundo ocorre apenas um ano depois do início do Gávea II, que reúne US$ 850 milhões, e pouco mais de dois anos depois do começo do Gávea I, que investiu U$ 350 milhões. "O G III é o nosso presente de aniversário", brinca Luiz Fraga, que fica mais à frente da rotina dos fundos de private equity. A equipe já tem 24 pessoas e ocupa meio andar em um disputado prédio da rua Dias Ferreira, no Leblon, sede da gestora.

A idéia, nesse terceiro fundo é adotar a filosofia básica dos dois anteriores. "Nosso DNA é o de ser um sócio minoritário que pode agregar valor", diz Luiz, lembrando que, apesar disso, em dois ou três investimentos eles estão no grupo de controle. De acordo com Armínio, não há setores específicos pré-estabelecidos, embora a gestora veja com bons olhos segmentos como agronegócio, infra-estrutura e logística. Outra possibilidade é investir também em ações de empresas listadas na bolsa. "Essa flexibilidade agrada muito os nossos cotistas, que vêm nos acompanhando desde o primeiro fundo", observa Luiz. Dessa forma, explica, eles puderam aproveitar grandes oportunidades nos últimos meses, já que ações de algumas empresas que consideram excelentes, caíram mais de 40%.

No Gávea I, previsto para durar quatro anos, algumas participações já começam a entrar na fase de venda, como, por exemplo, a Ipanema Coffees. As principais participações desse fundo são na Aliansce (shopings), McDonalds e Multiterminais (Logística). É nesse fundo também que estava o investimento na aérea BRA, que já foi desconsiderado, mas segundo os sócios, correspondia a uma parcela pequena da carteira.

O segundo fundo investiu em empresas como Magnesita, OGX e Aracruz, além da Time 4Fun (ex-CIE), do grupo ABC (do publicitário Nizan Guanaes), da CPM Braxis e mais recentemente na nova aérea Azul, do empresário David Neeleman. O Gávea II está em fase de fechamento dos dois últimos aportes . O próximo negócio em vista já será alocado no terceiro fundo.

A Gávea começou a funcionar oficialmente em agosto de 2003, com foco inicial nos hedge funds. Captou US$ 650 milhões no fundo local e no offshore em cerca de três meses . Hoje, essa área reúne US$ 3,3 bilhões, sendo US$ 2 bilhões no fundo local e o restante no estrangeiro. Cerca de um ano depois foi montada a área de gestão de patrimônios, hoje com US$ 1,5 bilhão. O terceiro braço, de private equity, começou em 2006 e soma US$ 2,7 bilhões. O grupo inicial, em torno de 30 pessoas, já passa agora de 100, entre os escritórios de Rio e São Paulo, sendo 20 sócios.

Animado com o novo momento do capitalismo brasileiro, Armínio diz estar satisfeito por estar vivenciando essa fase. "Tem sido interessante para nós participar dessa mudança de mentalidade que está acontecendo no Brasil. O país está mais empreendedor, mais capitalista e isso gera uma energia fantástica no meio dos negócios", diz.

Apesar do entusiasmo, ele não está otimista com o cenário externo e prevê que os percalços da economia dos EUA durem mais alguns trimestres. Para Fraga, os próximos cinco anos, a partir deste, não terão a mesma exuberância dos últimos cinco encerrados em 2007. As economias devem desacelerar um pouco e lidar com problemas como inflação e a ressaca do que ocorreu no mundo financeiro. Mas o Brasil está bem por conta da alta das commodities.