Título: Brasil quer exportação de derivados tipo premium
Autor: Safatle , Claudia
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2008, Empresas, p. B7

O Palácio do Planalto bateu o martelo na construção das novas refinarias Premium, uma no Maranhão e outra no Ceará, destinadas à exportação de diesel com as especificações exigidas pelos mercados japonês, europeu e americano.

Essa decisão é parte da estratégia do presidente Luis Inácio Lula da Silva, que, em recente reunião com a Casa Civil e com a direção da Petrobras , estabeleceu algumas premissas decorrentes do aumento da produção de petróleo, na próxima década, a partir da camada pré-sal.

Uma é que o Brasil não vai ser exportador de óleo bruto, mas de produtos com maior valor agregado e, portanto, serão necessárias as construções, no país, de novas refinarias, petroquímicas e indústrias químicas. O objetivo do governo é de chegar a 2020 com uma capacidade de refino de 3,2 milhões de barris por dia, com crescimento de 78,5% sobre a produção atual.

A indústria naval local terá que dar conta de uma boa parte da demanda, seja de navios sonda, novas plataformas, estaleiros e embarcações.

E, por fim, que pelo menos uma parte das receitas decorrentes da exploração das novas reservas - os campos do pré-sal na Bacia de Santos - serão usadas para com por um fundo destinado à investir em educação. Outros fundos setoriais, dependendo do tamanho dessas receitas, poderão ser criados.

"Somos o país que pode transformar esta reserva em riqueza para a sociedade e em poderio econômico, social e político para o país", sintetizou um ministro que estava presente na primeira reunião do grupo de trabalho criado pelo governo para propor um modelo de exploração. Para ele, com essa estratégia o Brasil não reproduzirá a "maldição do petróleo", ou a "doença holandesa", que, segundo os estudos produzidos após as duas crises do petróleo no século passado, acometeu os países produtores. Por essa doença, o gigantismo da indústria petrolífera tornou raquíticos os demais setores de manufaturas, não se traduzindo, nesses países, em ganhos para o conjunto da sociedade.

As refinarias do Maranhão e do Ceará terão capacidade de 300 mil e 150 mil, respectivamente, numa primeira etapa até 2014. Depois, ambas serão "clonadas", duplicando a produção para 600 mil e 300 mil. Estas, porém, não esgotam todas as possibilidades de novas unidades de refino que estão sob análise.

As duas refinarias, acrescidas

-------------------------------------------------------------------------------- "Só será feito o que interessar ao conjunto do país", afirmou um ministro do Palácio do Planalto --------------------------------------------------------------------------------

das de Pernambuco (RNE) e do Rio de Janeiro (Comperj) e da expansão da capacidade de refino da Replan (SP) e da Repar (PR), vão elevar a produção total dos atuais 1,79 milhão de barris por dia (bpd) para 2,49 milhões em 2013, quando entra em produção a primeira etapa da refinaria do Maranhão. A produção sobe para 3,065 milhões em 2016, quando os dois investimentos estiverem concluídos, chegando a 3,2 milhões em 2020.

Segundo o diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, com otimizações, modernizações e adequações de atuais refinarias. o aumento da capacidade de refino chegará a 1,3 milhão de barris no período.

O grupo de trabalho encarregado de elaborar um modelo de exploração para o grande reservatório do pré-sal só teve uma reunião e ainda não fez opção por uma das várias hipóteses (partilha de produção, contratos de concessão, contratos de serviço).

Há, contudo, uma clara simpatia pelo modelo da Noruega, onde convivem duas companhias estatais. A Statoil, criada em 1972, com 60% do capital da coroa norueguesa e os 40% restantes nas mãos do mercado, é hoje responsável pela administração econômica e comercial; e a Petroro, criada alguns anos depois, que ficou com a administração patrimonial e financeira.

Há, também, possibilidades já descartadas, como a de securitização desses ativos, para antecipar recursos necessários aos investimentos na exploração do pré-sal. "Só será feito o que interessar ao conjunto do país", disse um ministro do palácio do Planalto. "E temos que olhar com o seguinte olho: o que eu fizer trazido a valor presente vai me fazer ganhar mais ou menos do que se esperarmos mais um ano?", indagou, desconsiderando, assim, uma sugestão levantada pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

No ano passado a Noruega obteve US$ 500 milhões com receitas do petróleo. No Brasil, esse ganho foi de US$ 111 bilhões. Segundo esse ministro, o presidente Lula vai mesmo criar um fundo destinado a investimentos em educação, "que é um investimento nobre", usando uma parte das receitas que o país tiver com a exploração das reservas do pré-sal. Dependendo do tamanho das receitas futuras, outros fundos setoriais poderão ser criados.

Os representantes da indústria naval foram chamados ao palácio do Planalto para discutir sobre a capacidade de encomendas e se comprometeram a construir 28 das 40 sondas de perfuração necessárias para as pesquisas no pré-sal, para entrega entre 2013 e 2017. As outras 12 serão importadas pela Petrobras até 2012. "Quando em 2002, na campanha eleitoral, Lula foi a público e disse que o país não podia ficar importando plataforma, disseram que ele estava errado. Hoje, isso não tem mais volta", disse o ministro. "Nós recuperamos a indústria naval antes e só por isso que agora isso é possível", comentou.