Título: Educação leva inflação a 0,8%
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2011, Economia, p. 11

Gastando mais com comida e alimentação fora de casa desde o início do ano, o brasileiro vê o orçamento doméstico ser corroído, agora, pelas despesas escolares. Em fevereiro, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,8%, puxada principalmente por desembolsos com educação. Comparado a janeiro, o item subiu 5,81% e foi responsável por 51% da taxa cheia no período. No mês passado, as mensalidades dos cursos de ensino formal saltaram 6,41%.

O repique de preços, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou dentro das expectativas do mercado ¿ que apostava no intervalo que variava de 0,73% a 0,9% ¿ e abaixo do resultado de janeiro (0,83%). A leve desaceleração é atribuída ao esfriamento da economia, motivada pelas medidas de restrição ao crédito baixadas pelo Banco Central no fim de 2010 e pelo início do ciclo de elevações dos juros básicos (Selic). O pé no freio do crescimento deste ano, no entanto, não deverá impedir que a autoridade monetária promova pelo menos mais dois aumentos ao longo de 2011. A Selic está atualmente em 11,75%.

No ano, o IPCA acumula alta de 1,64%. Em 12 meses, a variação está positiva em 6,01%. O centro da meta de inflação definida pelo governo é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, mas os analistas independentes apontam que, em dezembro, o resultado ficará em torno de 5,8%. ¿A inflação de 2011 está perdida. Não há muito o que fazer. O governo manteve uma política francamente expansionista em 2010 e, agora, temos isso. O foco da política monetária tem de ser 2012 e o BC está, agora, calibrando a taxa de juros¿, explicou José Luís Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB).

Controle Também registraram saltos em fevereiro, na comparação com janeiro, os grupos despesas pessoais (1,43%) ¿ principalmente cigarros e comunicação (0,49%) e artigos de residência (0,44%). O item transportes, porém, recuou de 1,55% para 0,46% entre um mês e outro, influenciado pela menor variação das tarifas de ônibus urbanos, intermunicipais e interestaduais. O avanço inflacionário também foi mais ameno nos grupos alimentação e habitação.

A acomodação dos preços tem a ver com o ritmo mais lento da economia nestes primeiros meses de 2011. O efeito esperado é de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) bem menor do que o de 2010. Enquanto no ano passado o país registrou taxa de 7,5%, neste ano as previsões de mercado estão entre 3,2% e 4,3% ¿ o governo espera algo entre 4,5% e 5%. Para os economistas, a partir do segundo semestre do ano, o consumo das famílias e os gastos do governo avançarão pouco, o que, conjugado com a elevação dos juros básicos, contribui para o controle de preços.

A inflação apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede os gastos das famílias com renda de um a seis salários mínimos, ficou em 0,54% em fevereiro. No cálculo de janeiro, divulgado pelo IBGE, a taxa havia batido em 0,94%. No acumulado do ano, o indicador está em 1,49%, enquanto que em 12 meses chega a 6,36%. Os produtos alimentícios, conforme o levantamento, não variaram entre janeiro e fevereiro. Os não alimentícios aumentaram 0,78%.

Gastos elevados Importante motor da economia, com peso de 60,6% no PIB, o consumo das famílias cresce a 29 trimestres consecutivos. Em 2010, as despesas do governo acompanharam o movimento, com alta de 3,3% (R$ 778 bilhões), influenciadas, principalmente, pelo clima eleitoral e pelos incentivos e isenções concedidos pelo Palácio do Planalto. Em valores correntes, o PIB alcançou R$ 3,675 trilhões no ano passado, configurando um PIB per capita de R$ 19.016 (alta de 6,5%).

Minério de ferro amplia queda » Quedas nos preços do aço e enormes estoques de minério de ferro nos portos da China, que ultrapassaram 80 milhões de toneladas, estão fazendo usinas e traders arrematarem estoques rapidamente, mesmo com os preços mais caros da exportação pela Índia, depois que o país elevou a taxa de exportação de 5% para 20%. Os preços do minério de ferro à vista continuavam a perder terreno ontem, refletindo a demanda fraca da China, enquanto os contratos futuros de aço de Xangai caíam para mínimas de três meses, desestimulando siderúrgicas a comprar a matéria-prima. O aumento do frete na Índia deve continuar a reduzir a transferência do minério para fora do país. O produto indiano foi cotado entre US$ 183 e US$ 185 por tonelada, abaixo dos US$ 187 dólares no dia anterior.

Carros batem recorde Daniel Camargos Bill Pugliano/AFP - 29/11/10 Produção, que atinge 310 mil unidades em fevereiro, deve cair A produção de veículos foi a maior da história para fevereiro. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), foram produzidas 310,7 mil unidades no mês, o que representa um crescimento de 24%, na comparação com o mesmo período de 2010, e de 18,7% ante janeiro. Apesar do bom momento, o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, fez várias ponderações para o restante do ano, que vão dos efeitos das medidas do Banco Central a brigas para evitar o aumento do aço e a expansão das importações.

Também da Fiat, Belini acredita que os efeitos das medidas macroprudenciais anunciadas pelo BC em dezembro, que tinham o objetivo de reduzir o consumo e brecar a inflação, devem começar a ser sentidas pelo setor no próximo trimestre. ¿Isso leva entre quatro e cinco meses para chegar à ponta, no consumidor¿, avaliou. Mesmo assim, um dos objetivos já é realidade. As vendas de veículos a prazo perderam espaço para os negócios à vista, que passaram de 33,5%, no primeiro bimestre de 2010, para 38%, nos dois primeiros meses deste ano.

Além da produção, as vendas também estão aquecidas. De acordo com os números divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em fevereiro os negócios com veículos no mercado interno atingiram 274,2 mil unidades, alta de 12%, ante janeiro, e crescimento de 24,1%, em relação a fevereiro de 2010. Nos dos primeiros meses, as vendas somaram 519 mil unidades, um crescimento de 19,5% na comparação com o volume de veículos comercializado no mesmo período do ano passado. No ano, foram produzidos 572,4 mil, com elevação de 15,3% sobre os dois primeiros meses de 2010.

Se a produção vai bem, as exportações não seguem a mesma tendência. O saldo entre as exportações e as importações brasileiras de veículos encerrou o primeiro bimestre negativo em 47 mil unidades ¿ foram exportadas 73 mil e importadas 120 mil.

IGP-DI fica em 0,96% A inflação captada pelo Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) desacelerou em fevereiro. Dados divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV) indicaram alta de 0,96% no mês passado, ante uma elevação de 0,98% em janeiro. A taxa é usada como um dos principais indexadores para reajustar as dívidas dos estados com a União. No ano, o indicador acumula ganho de 1,94%, enquanto que em 12 meses a alta já alcança 11,12%.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), um dos componentes da taxa, avançou 1,23% em fevereiro: o IPA agrícola impulsionou a alta, com 2,6%, e o IPA industrial saltou 0,73%. As matérias-primas brutas reduziram o ritmo da carestia, mas mantiveram-se em patamares elevados, com ganho de 2,21%. Aves, café e milhão foram os produtos que mais pressionaram a inflação em fevereiro, conforme a metodologia adotada pela FGV.

Construção O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), outra taxa que integra o IGP-DI, desacelerou para 0,49% ¿ contra 1,27% apurados em janeiro. O INCC-DI, que reflete o comportamento dos preços na construção civil, avançou 0,28% no mês passado, em comparação com a taxa positiva de 0,41% apurada em janeiro. A coleta de preços para o IGP-DI de fevereiro ocorreu no intervalo de 1º a 28 do mês passado.

Cinco das sete categorias desaceleraram, com alta de apenas 0,12% dos preços dos alimentos, após alta de 1,36% em janeiro. O grupo formado por educação, leitura e recreação registrou ganho de 0,44%, ante 4,01% em janeiro. O item transportes passou a 1,16% de alta, contra 2,69%. Os itens que mais favoreceram o crescimento menor do IPC foram cursos formais, tarifa de ônibus urbano, artigos de higiene e cuidado pessoal e roupas.