Título: Calçadistas conseguem reajustar preços para Europa
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2008, Brasil, p. A4

A desaceleração da economia global e a valorização continuada do real estão exigindo um esforço extra dos exportadores de calçados para manter os níveis de encomenda e conseguir repassar pelo menos parte do impacto da variação cambial sobre as margens obtidas no exterior. O problema é maior nos Estados Unidos, porque os importadores locais privilegiam preço e dão preferência para os produtos da China, diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Milton Cardoso.

Segundo os dados consolidados pela entidade, já no primeiro semestre as exportações para os EUA caíram 31,2% em comparação com o mesmo período de 2007, para US$ 258,7 milhões. O desempenho reduziu a participação daquele mercado sobre embarques totais do Brasil de 40,1% para 27,2%, ao mesmo em que o preço médio encolheu 18%, para US$ 10,52 o par. Os EUA compram produtos mais baratos, que levam a marca do importador, o que afasta daquele mercado indústrias que investem nas próprias marcas.

Na Europa a situação é diferente, explica Cardoso. Como os consumidores da região dão preferência a produtos "de moda" e têm mecanismos de proteção contra a enxurrada de produtos asiáticos, eles ainda toleram algum nível de reajustes. Foram países como Inglaterra, Itália, Espanha, Holanda, Portugal e França, além dos sul-americanos Argentina e Venezuela, onde o comportamento é similar, que permitiram a alta de 1,5% nas exportações totais nos seis meses, para US$ 951,1 milhões, apesar da queda de 2% em volume, para 89,5 milhões de pares.

Mas mesmo entre os europeus o espaço para remarcações acabou, diz o presidente da Bibi, fabricante de calçados infantis, Marlin Kohlrausch. Segundo ele, que também exporta para a América Latina e um volume "inexpressivo" para os EUA, o mercado externo está desacelerando e deve representar 20% das vendas totais da empresa no segundo semestre, ante 30% no primeiro. Até junho, a empresa havia conseguido aumentar os preços em dólar em até 30% e na média do ano os embarques ficarão com uma fatia de 25% da produção de 3,1 milhões a 3,2 milhões de pares.

A West Coast abandonou o mercado americano há cinco anos e concentrou-se em países da América do Sul, Europa e Oriente Médio, diz o gerente de marketing, Sérgio Baccaro Júnior. Conforme o executivo, a empresa vem conseguindo aplicar reajustes de no máximo 5% nas renovações de coleções e mesmo assim vem operando com margem quase zero nas exportações para não perder espaços conquistados no exterior. A empresa deve produzir de 2,6 milhões a 2,7 milhões de pares neste ano, ante 2,4 milhões em 2007, sendo 30% destinados ao mercado externo.

A Piccadilly conseguiu, a muito custo, convencer os importadores europeus, latino-americanos e do Oriente Médio a aceitarem reajustes de cerca de 8% em média desde janeiro, relata o diretor-presidente, Paulo Grings. Em compensação, ele prevê uma elevação do volume embarcado para 3 milhões de pares neste ano, ante 2 milhões em 2007, ao mesmo tempo em que a produção total deve passar de 7 milhões para 8,9 milhões de pares. Segundo Grings, as encomendas para o mercado externo são fechadas em agosto e em junho e julho elas ficaram em níveis 50% acima do mesmo período de 2007.

Dados da Associação Nacional de Fabricantes de Cerâmicas para Revestimento (Anfacer) mostram que a desaceleração americana nas vendas das indústrias brasileiras foi sentida pelas cerâmicas exportadoras brasileiras: as vendas aos EUA no primeiro semestre deste ano caíram 30%, totalizando US$ 47,7 milhões ante US$ 67,4 milhões no primeiro semestre de 2007. Se comparada com os números do primeiro semestre de 2006, a situação é ainda mais complicada: recuo de aproximadamente 50%. Para o setor, os números refletem principalmente a conjuntura do mercado de novas residências, que está parado.