Título: Tema de campanha some de discurso
Autor: César Felício, Cristiane Agostine e Jamil Nakad Jr
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2005, Brasil, p. A5

Principal preocupação dos paulistanos durante a campanha eleitoral, a saúde ocupou pouco espaço do discurso de posse do 59º prefeito de São Paulo - foram apenas três citações, das mais de 2,2 mil palavras. José Serra (PSDB), 52, fez um discurso enxuto. Quatro anos antes, Marta Suplicy (PT) pegava o Executivo paulistano fazendo a platéia ouvir pelo menos o dobro das palavras de Serra. A saúde foi lembrada por Marta sete vezes. Dois estilos diferentes não apenas pela quantidade de palavras. Em seu discurso, Serra preferiu ser mais genérico e não anunciou medidas imediatas como fez Marta, como o almoço com o povo de rua no dia seguinte à sua posse. Serra, em contraposição, disse que seu governo será avesso "ao estilo de amostra grátis": "Vamos dizer sempre não à tentação fácil das realizações vistosas". Também não estabeleceu prazos ou metas, apenas disse que cem ou mil dias de seu governo não serão suficientes para completar seu objetivo na administração. Lendo o texto com o auxílio de um teleprompter, Serra incluiu 151 palavras ao discurso oficial distribuído pela internet no site tucano. As principais modificações, de improviso, faziam alusão ao discurso de despedida da petista, à visita que o tucano fez durante a madrugada aos funcionários públicos que trabalhavam depois do réveillon e ao encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. Serra pediu em diversos momentos a união da cidade, para evitar que o seu governo contraponha bairros pobres e ricos como foi constatado na eleição: "Para mim, não existe bairro que votou em A ou bairro que votou em B". A união também foi mostrada quando escolheu de quatro personalidades de quatro distintas religiões para ampará-lo em busca de um conceito de felicidade: São Francisco, Buda, Maomé e Maimonides. Também recorreu à aceitação das regras do jogo democrático lembrando a derrota para a campanha presidencial de 2002: "Passadas as eleições, a forma de continuarmos honrando o compromisso democrático é mobilizarmos nossos respectivos partidos... para o bem da cidade. Sem vaidade, sem rancor, sem preconceito. Com altivez nas derrotas, humildade nas vitórias - atitudes que tivemos em 2002 e 2004". Na maioria das vezes que fez referências ao governo Marta, Serra fez críticas veladas, a única direta disse respeito à situação financeira da cidade: "A prefeitura está sem dinheiro... gastou mais do que podia, comprometeu-se além da conta e cumpriu aquém do razoável". Marta, no discurso de despedida, relembrou os juros do governo Fernando Henrique Cardoso, que já fizera parte das suas críticas no discurso de quatro anos atrás. As críticas indiretas diziam respeito à partidarização do governo do PT - "Meu compromisso é com uma administração voltada para o bem comum, não partidarizada..." - e à arrogância atribuída a Marta durante a campanha -"prefeito não é eleito para mandar, mas sim para, com autoridade, servir as pessoas do seu município". O primeiro prefeito tucano da cidade de São Paulo não deixou de homenagear em seu discurso o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e o governador Geraldo Alckmin, principais lideranças do PSDB paulista.