Título: Mais travas para o dólar
Autor: Caprioli, Gabriel ; Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2011, Economia, p. 13

A presidente Dilma Rousseff já deu aval ao Ministério da Fazenda e ao Banco Central para tomar medidas mais duras com o intuito de conter o derretimento do dólar. Em conversa ontem, o ministro Guido Mantega e o comandante da autoridade monetária, Alexandre Tombini, admitiram que são cada vez maiores os riscos de a cotação do real frente à moeda norte-americana romper o piso de R$ 1,60 nos próximos dias. Portanto, tudo indica que, logo depois do carnaval, ainda na quarta-feira de cinzas ou na quinta, o arsenal à disposição do governo voltará a ser acionado.

A tendência é de se elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), hoje de 6%, incidente na entrada de capital estrangeiro no país para aplicações em renda fixa e nos mercados de derivativos. Também está sendo cogitada a cobrança do mesmo tributo sobre os recursos direcionados às bolsas de valores, hoje isentas. E ninguém descarta medidas mais radicais, como a imposição de uma quarentena (prazo) para que os recursos saiam do Brasil.

¿A situação está no limite. Temos que frear a entrada de dólares no país. Todas as medidas que já adotamos não estão mais surtindo efeito. Sendo assim, teremos que agir rápido, e a adoção de mais travas depois do carnaval está quase certa¿, admitiu um dos assessores de Mantega. Ele ressaltou que, ontem, o BC interveio quatro vezes no mercado para evitar a valorização do real, mas não teve sucesso. A moeda norte-americana encerrou a sexta-feira valendo R$ 1,645 para a venda (baixa de 0,42%), o menor nível desde agosto de 2008, antes do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos ¿ no dia 15 de setembro daquele ano, o Banco Lehman Brothers ruiu e empurrou o mundo para a recessão.

A supervalorização do real está sendo agravada pela necessidade do BC de elevar a taxa básica de juros para controlar a inflação. Na última quarta-feira, o indicador saltou para 11,75%, o maior patamar em dois anos. Quanto maior for a taxa de juros no país, mais vantajoso fica para os estrangeiros tomarem empréstimos nos EUA, na Europa e no Japão, onde o custo do dinheiro está próximo de zero, para aplicar no país, ganhando com a diferença. É o que os analistas chamam de arbitragem.

¿Já aumentamos o IOF e o BC acelerou a compra de moedas (ontem, pode ter tirado US$ 1 bilhão do mercado), voltou a atuar no mercado futuro (por meio do swap cambial reverso) e ainda exigiu mais capital do bancos para operar com a moeda norte-americana. Mas nada parece ter efeito¿, disse um assessor do Palácio do Planalto. ¿Se nada mais for feito, o risco é de a cotação cair para R$ 1,50 muito em breve¿, acrescentou.

No mercado de ações, o Ibovespa recuou 0,2% (68.012 pontos). Há uma crescente insegurança entre os investidores com os conflitos na Líbia, empurrando o petróleo para preços recordes.

Segunda semana de prejuízos As bolsas de valores da Europa computaram a segunda semana consecutiva de perdas, reflexo da disparada dos preços do petróleo e dos fracos números do mercado de trabalho dos Estados Unidos. O FTSEurofirst 300, índice das principais ações europeias, apontou baixa de 1% nos últimos cinco dias, para os 1.147 pontos. Ontem, especificamente, a Bolsa de Londres recuou 0,24% , a de Paris, 1%, e a de Frankfurt, 0,65.