Título: Frigoríficos começam a ser auditados para exportar carne aos EUA
Autor: Scaramuzzo , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2008, Agronegócios, p. B11

O Ministério da Agricultura vai começar esta semana a fazer auditorias nos frigoríficos brasileiros habilitados a exportar carne bovina industrializada para os Estados Unidos. O secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Inácio Kroetz, que chega hoje ao Brasil, disse ontem ao Valor que os trabalhos vão começar imediatamente.

Análises feitas por técnicos americanos em frigoríficos nacionais concluíram que há divergências no sistema de auditoria determinado pelo governo brasileiro em relação às exigências feitas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Kroetz, que estava nos EUA desde a semana passada, negociou até sábado diretamente com os americanos.

Segundo Kroetz, são 22 frigoríficos nacionais habilitados a comercializar carne para o mercado americano. Mas, deste total, apenas oito companhias exportam. "Os outros [frigoríficos] fornecem matéria-prima para as empresas exportadoras."

Na sexta-feira, o ministério informou que irá realizar novas auditorias nas empresas que exportam carne bovina industrializada para os EUA. Esta decisão foi tomada em Washington (EUA), entre representantes da secretaria de defesa agropecuária do ministério e o Serviço de Inspeção e Segurança de Alimentos (FSIS, sigla em inglês), vinculado ao USDA.

As reuniões com os americanos terminaram ontem, segundo Kroetz. Durante a reunião, ficou acertado um cronograma de ações corretivas de aplicação imediata, que inclui o treinamento e reciclagem de técnicos do Serviço de Inspeção Federal (SIF), dos frigoríficos e das auditorias com equipes capacitadas neste programa.

Conforme nota divulgada pelo ministério, o relatório destas ações será enviado pelo governo brasileiro ao FSIS, que após a análise do documento, irá agendar uma missão para realização de nova inspeção amostral, que deverá ocorrer até o fim do mês de agosto.

Até que essas ações sejam implementadas, o ministério não emitirá o Certificado Sanitário Internacional para a carne bovina processada no país com destino ao mercado americano. Os embarques estão parados.

Também na sexta-feira, o governo brasileiro anunciou que deverá exportar carne de frango in natura para a Índia. Por esse acordo, o país asiático poderá se tornar o principal destino da carne de frango do país, com um potencial de vendas de até 300 mil toneladas, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef).

"Num primeiro momento, que isso signifique exportar 300 mil de toneladas, é 10% do que exportamos para o mundo. O embaixador da Índia em São Paulo disse que há condições de ter negócios dessa ordem no primeiro ano e condições de ter uma negociação crescente", afirmou o presidente da Abef, Francisco Turra.

De acordo com comunicado do Ministério da Agricultura, a única condição imposta é a de que as aves não tenham sido alimentadas com subprodutos derivados de ruminantes e que a sua carne não tenha entrado em contato com a carne, produtos ou subprodutos de suínos ou ruminantes.

Dados da Abef mostram que em 2007 a Rússia foi o maior destino para a carne do Brasil, com volumes embarcados de 194 mil toneladas.

A decisão da Índia de comprar carne de frango do Brasil reflete a ocorrência de focos de gripe aviária naquele país, que nos últimos anos obrigou os indianos a sacrificar mais de um milhão de aves.

A Índia ocupa atualmente a 60ª posição na lista de destinos dos produtos brasileiros do agronegócio, com US$ 85,2 por milhões até junho deste ano. Os principais produtos do país embarcados para a Índia são o complexo soja.

As vendas de grãos para a Índia, contudo, poderão sofrer uma redução significativa, uma vez que os produtores locais estão reduzindo drasticamente a área plantada com cana para investirem em grãos, sobretudo soja, que está com os preços mais atraentes no mercado internacional. Segundo maior produtor mundial de açúcar, a Índia foi responsável pela queda das cotações da commodity no mercado global nos últimos meses.