Título: Travaglini , Fernando
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2008, Finanças, p. C3

As estratégias do HSBC apontam cada vez mais para um integração entre as diversas unidades espalhadas por 83 países ao redor do mundo. A começar pelo slogan, "The world´s local bank" (algo como o banco local do mundo), até a recém-divulgada meta de obter 60% dos lucros em mercados emergentes.

Isso se reflete em produtos e serviços cada vez mais unificados e semelhantes, que sejam oferecidos em qualquer agência do grupo. Dentro dessa visão, o Brasil assume um papel cada vez mais relevante, segundo Alex Hungate, diretor global do HSBC Holdings para a área de varejo bancário, aquisição de clientes, canais de distribuição e marketing.

Segundo ele, o Brasil é crucial para atingir a meta de 60% de lucro em emergentes. "A unidade brasileira cresce mais rápido do que os negócios em países desenvolvidos, mantendo o foco em crescimento orgânico". Em 2007, o banco entrou no seleto grupo de países que contribuem com mais de US$ 1 bilhão no resultado global do banco (lucro antes de impostos).

"O HSBC é um banco global. E um banco global sem uma presença no Brasil não faz sentido. Temos uma posição realmente muito boa e isso é importante nesse momento promissor que o pais vive", relata o executivo em viagem de dois dias a São Paulo e Curitiba (sede do banco).

Além disso, o grupo pretende cada vez mais integrar o atendimento do cliente, com contas correntes que possam ser acessadas de qualquer lugar do mundo e com ofertas de investimentos em fundos de diversos países.

O carro-chefe nessa estratégia foi o lançamento mundial da conta Premier, no fim do ano passado. Voltado para um público de renda média-alta, a modalidade oferece serviço pessoal de conta corrente, com reconhecimento internacional. "Onde quer que esteja, o cliente será reconhecido nas agência do HSBC".

Também responsável pela área de marketing, ele avalia que houve um desenvolvimento da marca HSBC no país. Mundialmente, ela já é reconhecida como a 23ª mais valiosa. "Cada ano estamos mais perto em termos de reconhecimento de marca. Hoje estamos na mesma categoria dos maiores bancos brasileiros. Isso reflete o desempenho do banco no Brasil".

Hungate assumiu o posto no HSBC em setembro do ano passado. Antes disso, ocupou diretoria da Reuters para Ásia. Na agência, visitava o Brasil anualmente, mas há quatro anos não aterrissava por aqui. "Percebi muitas mudanças na cidade (São Paulo) com muitas construções e novos prédios". Esse evidente boom da construção, aliado ao crescimento da renda da população, também anima o executivo pelo avanço dos financiamentos imobiliários, um dos pontos que espera maior desenvolvimento.

Outra aposta esta nos investimentos da alta-renda (conhecido como wealth management). Dentro desse segmento, complementou Paulo Maia, vice-presidente executivo do banco no Brasil, ganha cada vez mais força a atividade de intercâmbio de fundos de investimentos. O grupo, disse ele, é muito forte no setor mundialmente e os fundos brasileiros também já são exportados para todo o mundo, principalmente para clientes da Ásia e da América Latina.

Nem mesmo a crise dos mercados globais abalou a confiança do executivo. "Estou otimista com o Brasil, que se beneficiou dos preços das commodities e tem condições de controlar a inflação". Hungate avalia, no entanto, que os problemas no mercado de crédito e de residências nos Estados Unidos não serão resolvidos até "pelo menos o fim de 2009 ou início de 2010". Na Europa o desaquecimento deverá continuar até 2010.

"Por outro lado, vemos países da América Latina, como o Brasil, e parte da Ásia com consistente crescimento e bons fundamentos econômicos. A questão é saber se esses países conseguirão isolar os problemas de inflação. Se conseguirem, estamos otimistas que irão manter o crescimento em bons níveis apesar os problemas nos EUA e Europa".

Ele lembra que o HSBC foi o primeiro banco a identificar os problemas do mercado americano do subprime no fim de 2006, ou seja, seis meses antes de a crise se aprofundar (em agosto de 2007). "Mais recentemente, fomos um dos primeiros a alertar para os riscos da inflação global. Essa é uma tendência que nos preocupa, puxada pelos preços das commodities e de energia. Estamos preocupados que isso resulte em desaceleração do crescimento da economia global".