Título: 'Sobreviventes' continuam com perspectivas favoráveis
Autor: Ragazzi , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2008, EU & Investimentos, p. D1

Laurence Beltrão, diretor da SLC Agrícola, que elevou estimativa para a alta de custos nas próximas safras As companhias que abriram capital ano passado e apresentaram forte desempenho na bolsa desde então são de setores que mantêm boas perspectivas de expansão: construção, agronegócio, educação e comunicações.

PDG Realty, MRV Engenharia e Tenda destacaram-se no ramo imobiliário por centralizarem as operações na baixa renda.

Apesar do cenário atual brasileiro, de inflação e elevação da taxa básica de juros, as empresas acreditam que, quando se considera as classes mais populares, a demanda reprimida por habitação no país vai falar mais alto.

"A queda no valor da prestação e o alongamento dos prazos de financiamento aumentou a procura pelos imóveis neste nicho de mercado, que tem prevalecido sobre os temores de inflação", afirma Leonardo Corrêa, vice-presidente de relações com investidores da MRV.

André Vieira, diretor-executivo da Tenda, também avalia que o quadro de juro em alta deve afetar mais quem pretende trocar de apartamento ou mudar de status. "A demanda ainda é alta entre aqueles que querem comprar, por necessidade, a primeira moradia, por exemplo", diz.

O vice-presidente e diretor de relações com investidores da PDG, Michel Wurman, também diz que a empresa não sente retração por parte da média e baixa renda. "Mas acho que ano que vem não haverá tantos lançamentos quanto se esperava e eles deverão ser concentrados pelas empresas de maior porte."

As companhias também esperam um cenário de consolidação, mas não se arriscam a estimar quantas empresas permanecerão. Ele reconhece, no entanto, que o horizonte é incerto, uma vez que não se sabe até onde irá o ciclo de altas da Selic.

"O importante é ter um departamento de relações com investidores forte para se comunicar com o mercado e moldar as expectativas", diz. "Empresas que apresentam bom crescimento precisam ter o 'timing' correto de mudanças de cenário para dar a direção ao mercado", afirma.

No ramo do agronegócio, a SLC Agrícola, ao divulgar o balanço do segundo trimestre, elevou a projeção de aumento de custos para as safras de algodão, soja e milho de 2007/2008 e 2008/2009. A razão foi a alta dos preços dos fertilizantes, sementes e defensivos.

Laurence Beltrão, diretor financeiro da SLC, afirma que os custos serão compensados pelo aumento dos preços e que a empresa garantirá as margens projetadas para o ano que vem.

A analista Denise Messer, da Brascan Corretora, observa que, ainda assim, o mercado deverá colocar no preço a expectativa de decréscimo de margens, o que pode pressionar as ações no curto prazo. Mas ela ressalta que o segmento vive um bom momento, impulsionado pela crescente demanda mundial por alimentos e biocombustíveis.

No caso dos fertilizantes, segmento de atuação da Heringer, dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) mostraram alta de 26,3% no volume de fertilizantes entregues ao consumidor final no segundo trimestre, ante os 20% esperados pelo mercado, conforme informou a Brascan. Os números mostram que a demanda ainda é forte pelo produto, apesar da alta dos preços dos insumos.

Para a GVT, as expectativas, conforme o analista Marco Aurelio Barbosa, da Coinvalores, são de que a empresa continue apresentando crescimento expressivo, principalmente nos chamados serviços de próxima geração: banda larga, transmissão de dados e Voip. No mercado também não se descarta que a empresa possa ser alvo de uma oferta de compra. Por ser uma empresa "espelho", a GVT teve condições de escolher áreas de atuação mais atrativas, além de possuir uma rede mais nova, não herdada da Telebrás.

No caso da Anhangüera, cujas ações estão em queda forte em 2008, a avaliação é que as margens da empresa tendem a ser pressionadas neste ano e no próximo, em função das sucessivas aquisições que a companhia planeja e tem anunciado. Semana passada, a Anhangüera Educacional fechou acordo para levar 30% da Microlins, empresa de ensino profissionalizante com mais de 500 mil alunos. Contudo, observa a equipe de análise da Fator Corretora, a partir de 2010, a empresa deverá ter ganho acelerado nas margens, com a integração das novas unidades adquiridas.