Título: Petrobras lidera indicações para agosto
Autor: Cotiasm , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2008, EU & Investimentos, p. D3

A frenética saída de capital externo da Bovespa em julho levou a pique ações de primeira grandeza. Em meio à cobertura de prejuízos em outros mercados pelos estrangeiros, os fundamentos de companhias com larga tradição em lucratividade foram relegados a segundo plano. Se o tal do "dinheiro esperto" irá voltar e buscar barganhas na bolsa brasileira ainda é uma incógnita. Mas foi a confiança de que, em algum momento, princípios como boa geração de caixa, faturamento e retorno sobre o capital próprio vão resgatar esses papéis, que motivou os participantes da Carteira Valor a fazerem a seleção para agosto.

Depois de cair 22,3% em julho, Petrobras preferencial (PN, sem voto) lidera a lista, com 7 recomendações, seguida pela ordinária (ON, com voto) da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), que perdeu 14,24% em julho e tem 4 indicações. Usiminas PNA (-12,7%) recebeu 3. No filtro dos analistas ainda passaram Bradesco PN, Gerdau PN, Banco do Brasil ON, Itaúsa PN, Cemig PN e as units (recibos de ações) da América Latina Logística, todas com 2 indicações cada.

Petrobras desandou ao compasso das cotações do barril do petróleo no mercado internacional e em meio às discussões sobre a abertura do mercado a novos competidores na exploração das áreas de pré-sal. Avaliando-se a relação entre oferta e demanda pelo óleo no globo, bem como o eventual anúncio de novas descobertas pela estatal, é um ativo que não pode ser ignorado, pondera o chefe de análise da Bradesco Corretora, Carlos Firetti. "Apesar da desaceleração econômica, não há uma situação tranqüila de oferta para o preço do petróleo afundar", diz. "E, como pelas regras da ANP (Agência Nacional de Petróleo) a companhia tem de anunciar o resultado das perfurações, há um rico universo potencial nesse sentido."

Mesmo com o freio na economia mundial, dificilmente o petróleo cairá abaixo de US$ 115,00, o barril, estabilizando-se num nível ainda elevado, avalia o estrategista de pessoa física da Itaú Corretora Fabio Anderaos de Araújo. Na agenda dos anúncios, pode haver novidades em relação ao campo de Guará, no bloco BM-S-9, localizado a 310 quilômetros da costa do Estado de São Paulo, a cinco mil metros de profundidade. Para a chefe de análise da Ativa Corretora, Luciana Leocádio, além das descobertas, o recuo do petróleo pode ser até benéfico para a estatal, que importa alguns combustíveis pelas cotações internacionais e os revende no mercado local a preços subsidiados. As discussões sobre a exploração do pré-sal jogaram uma sombra sofre o futuro da petrolífera, mas as indicações são de que as áreas que já pertencem à Petrobras não serão afetadas, acrescenta o estrategista da Unibanco Corretora, Vladimir Pinto.

Mas se Petrobras é praticamente uma unanimidade na Carteira Valor de agosto, o mesmo não ocorre com os demais papéis ligados aos complexos de commodities. A Bradesco Corretora, por exemplo, preferiu compor as indicações sem maior exposição ao setor. "As commodities podem até se recuperar no curto prazo, mas ainda estamos reticentes e preferimos ficar neutros", diz Firetti. Mesmo as escolhas mais defensivas ligadas ao mercado interno não são garantia que estarão isoladas de novas chacoalhadas no mercado internacional. No setor financeiro, a corretora escolheu as units do Unibanco por considerar que, de maneira geral, os resultados bancários continuarão evoluindo trimestre a trimestre. Por enquanto, não há sinais de que o aumento dos juros prejudicará o crédito ou elevará de forma significativa as taxas de inadimplência.

Vale PNA, que tradicionalmente briga em pé de igualdade com Petrobras na lista "top 10", desta vez recebeu apenas duas indicações. Entre as ações relacionadas a commodities, os destaques ficaram com CSN ON e Usiminas PNA. Para Pinto, da Unibanco, as negociações em torno da venda da Namisa podem ser um catalisador de curto prazo para a CSN. Já a Usiminas teve um desempenho fraco no mês passado e, como tem suas atividades notadamente voltadas para o mercado interno, não teria por que estar tão vinculada às oscilações internacionais, afirma Luciana, da Ativa. Ela espera bons resultados na divulgação do balanço do segundo trimestre.

A Itaú Corretora, por sua vez, apesar de manter recomendação de compra para Usiminas, na carteira recomendada decidiu substituí-la por Gerdau PN. As inundações nas minas de carvão australianas podem dificultar a extração e elevar o preço do insumo, afetando as margens da companhia, diz Araújo. "O custo do carvão metalúrgico pesa na mesma proporção ou até mais do que o minério de ferro e esse é um risco potencialmente forte." Para Gerdau, a leitura é de que a companhia, mesmo com fábricas em mercados como Estados Unidos, Colômbia e Chile, passa por uma boa fase como fornecedora de aços longos para a construção civil e implementos agrícolas, tirando a maior parte da sua rentabilidade do mercado brasileiro.

Fora do time da primeira linha, a Itaú incluiu ainda São Martinho ON, por acreditar na recuperação dos preços do açúcar e álcool no mercado internacional. "As cotações estão defasadas a ponto de desestimular a produção", diz Araújo. Com limitações para desviar a produção de milho para fabricação de etanol nos Estados Unidos, a saída do governo americano pode ser importar o álcool extraído da cana-de-açúcar e, se tal possibilidade se concretizar, o Brasil é que ganhará pontos. No mesmo setor, Cosan ON foi mantida no portfólio indicado da Bradesco Corretora e foi o papel que fez a diferença em julho, com ganhos de 11,16%.

No mês passado, a Carteira Valor perdeu 7,59%, em comparação à queda de 8,48% do Ibovespa. No ano, o portfólio perde 9,42%.