Título: Estudo do BC aponta disseminação regional do investimento produtivo
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2008, Brasil, p. A2
Apesar de ainda bastante concentrados na região Sudeste, os investimentos no Brasil estão se disseminando regionalmente. É o que aponta estudo divulgado ontem pelo Banco Central, inserido no boletim regional que está sendo produzido regularmente pela instituição. Para realizar a análise, a instituição decompôs os dados de importação de bens de capital, desembolsos de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), consumo de cimento e geração de empregos por cada uma das cinco regiões do país. A pesquisa se concentrou principalmente entre os anos de 2003 e maio de 2008, período em que a participação dos investimentos no Produto Interno Bruto (PIB) subiu de 15,3% para 17,9%.
A importação de bens de capital, por exemplo, cresceu em todas as partes do país desde 2005. E, desde então, pelo menos uma região superou a alta que os Estados do Sudeste obtiveram em cada um dos anos subseqüentes.
No ano passado, as compras no exterior feitas pelo Centro-Oeste e Nordeste - regiões que menos importam bens de capital - cresceram 69,7% e 48,2%, respectivamente, em relação a 2006. Já São Paulo, Minas, Rio e Espírito Santo - responsáveis por 65,7% das importações - registraram alta de 33%. "Embora os fluxos se concentrem, em termos nominais, no Sudeste, região com maior densidade industrial, o aumento relativo dessas aquisições tem ocorrido de forma mais acentuada, nos últimos três anos, nas regiões Sul, Centro-Oeste e Nordeste", infere o BC.
Nos desembolsos do BNDES, a região que demandou o maior aumento no volume de financiamentos na instituição no período de 2003 a 2007, em relação à média dos cinco anos anteriores, foi o Centro-Oeste, com elevação de 130,6% ao tomar R$ 4,1 bilhões. Em seguida está o Sudeste, com R$ 27,8 bilhões por ano, o que representou uma alta de 119,1% na comparação com a média dos anos entre 1998 e 2002.
Em relação ao consumo de cimento, medido pelo Sindicato Nacional da Indústria de Cimento, as regiões cujo consumo mais cresceu de 2003 a 2007 foram Norte (43%), Nordeste (41%) e Centro-Oeste (39%). A média brasileira foi de 34%. "Essa evolução sugere desconcentração dos investimentos, haja vista que as regiões onde o consumo cresceu mais acentuadamente constituem-se nas detentoras de menores estoques de capital", afirma o levantamento.
Nos empregos gerados pela construção civil, o Banco Central utiliza os dados deste ano, até maio, período no qual foram criadas 160 mil vagas, o dobro de igual intervalo de 2007. Centro-Oeste (223%) e Nordeste (155%) registraram o maior crescimento na geração de vagas.
Pelas estimativas do Banco Central, daqui para a frente, o que terá um peso importante na disseminação do investimento pelas diferentes regiões do país é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê recursos para as mais diversas áreas. Apesar de o Sudeste ser a área que mais vai receber dinheiro de 2007 a 2010 - R$ 234 bilhões - os montantes têm diferentes pesos para cada região. Em sua apresentação, ontem, no Recife, Mário Mesquita, diretor de política econômica do Banco Central, destacou o caso de Pernambuco. Enquanto a média nacional de investimentos no país é de 20% do PIB, em Pernambuco o percentual chegará a 35%.
A descentralização dos gastos destinados à formação bruta de capital fixo (FBCF, que mede investimentos na construção civil e em máquinas e equipamentos) é importante porque reflete que todo o país está aumentando sua capacidade produtiva, colaborando para a diminuição das desigualdades regionais.