Título: No BNDES, aprovações crescem abaixo dos desembolsos no semestre
Autor: Rosas , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 08/08/2008, Brasil, p. A3

Após crescerem sucessivamente desde 2005 acima dos desembolsos de recursos para financiamentos já contratados , as aprovações de novos projetos pelo BNDES tiveram desempenho abaixo dos recursos desembolsados no primeiro semestre deste ano. Enquanto os desembolsos aumentaram 56,2% de janeiro a junho, atingindo o recorde de R$ 38,6 bilhões no período, as aprovações aumentaram 34,2%, totalizando R$ 51,2 bilhões. O banco não vê motivo para preocupação na mudança.

"Antes (de 2005), você tinha um ritmo de crescimento econômico e, principalmente, dos investimentos, modesto. Desde então, os investimentos cresceram 17 trimestres seguidos e chegaram ao dobro da taxa de crescimento do Produto (Interno Bruto, PIB). Neste cenário, foi natural que as aprovações disparassem", analisou o economista Fernando Puga, chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do BNDES. Para ele, os números atuais mostram uma cristalização do crescimento. "A tendência agora é os dois crescerem fortemente, e, eventualmente, os desembolsos crescerem mais", disse.

Durante divulgação semestral do desempenho do banco, o presidente Luciano Coutinho, previu uma retomada forte das aprovações no segundo semestre, quando os projetos de infra-estrutura deverão superar os de indústria. Coutinho adiantou que neste mês de agosto devem entrar nas estatísticas de desempenho as aprovações das hidrelétricas do Madeira, Santo Antônio e Jirau, mais um grande número de projetos de PCHs, de etanol, petróleo e gás.

Os números divulgados mostram que entre os desembolsos, a infra-estrutura e a indústria receberam, em 12 meses, R$ 63,7 bilhões, ou 81,7% do total. Infra-estrutura ficou com R$ 32,5 bilhões, uma alta de 80% na comparação com os 12 meses anterior.

Coutinho admitiu que os desembolsos este ano poderão superar R$ 80 bilhões. As expectativas do banco são de liberar entre R$ 82 a R$ 83 bilhões até dezembro. Mas, o orçamento de 2008 ainda não foi fechado. Segundo uma fonte ouvida pelo Valor, ainda faltam cerca R$ 10 bilhões para o banco operar até o final do ano sem preocupações com novas captações de recursos. O banco chegou a negociar um pacote com a Caixa, mas por enquanto não teve sucesso.

Na próxima reunião do Conselho de Administração do banco, que vai acontecer dia 14, da semana que vem, pretende pedir um aumento para cobrir a parte do orçamento do banco que ultrapassar os R$ 80 bilhões. " Vamos pedir para subir a vareta um pouquinho " , resumiu o presidente do BNDES. Ele garantiu, apesar de informações contrárias, que " já temos funding suficiente para R$ 80 bilhões e é possível que tenhamos que negociar ou captar um pouco mais " .

Segundo Coutinho, o aumento do emprego com carteira assinada reduziu as preocupações sobre os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), principal fonte de captação do banco. Mesmo assim, o presidente do BNDES ressaltou que a alta dos recursos do FAT não é suficiente para fazer frente ao aumento da demanda por recursos do banco de fomento estatal. A saída encontrada pela instituição foi, segundo ele, restringir cada vez mais o uso desses recursos, destinados a empréstimos lastreados pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

" Os recursos do FAT são nobres, em TJLP, e destinados fundamentalmente à formação de capacidade industrial nova, à formação de infra-estrutura nova e à inovação. Há uma utilização muito seletiva dos recursos em TJLP. Em casos de recursos para giro, para exportação ou para empresas que têm alternativas, oferecemos o IPCA ou cesta de moedas " , disse Coutinho.

Hoje a carteira de empréstimos do BNDES tem cerca de 80% do total lastreado em TJLP e o restante em índices de inflação ou cesta de moedas. A tendência, segundo Coutinho, é ir para uma relação de 70% e 30%. A medida certamente reduz a corrida pela TJLP, de 6,25% ao ano, a metade da Selic de 13%.

A mudança de comportamento ocorrida no primeiro semestre entre aprovações e desembolsos segue o o ritmo atual da economia, avalia Puga. Segundo ele, até 2004, ano no qual a economia brasileira voltou a crescer em ritmo mais forte (5,7%), as aprovações e os desembolsos do BNDES caminhavam lado a lado, ora com vantagem para um, ora para outro. Em 2005 houve um descolamento, com as aprovações chegando a R$ 54,5 bilhões, contra R$ 47 bilhões dos desembolsos. A diferença se aprofundou no ano seguinte (R$ 74,3 bilhões contra R$ 51,3 bilhões) e mais ainda em 2007 (R$ 98,8 bilhões contra R$ 64,9 bilhões).

Embora nos 12 meses fechados em junho deste ano a diferença permaneça na casa dos R$ 33 bilhões que atingiu no ano passado, com as aprovações crescendo 30% e os desembolsos, 34%, a sinalização a partir de janeiro é de uma redução da distância. (Do Valor Online)