Título: Haja estupidez
Autor: Ferraz, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2011, Opinião, p. 16

A presidente Dilma Rousseff por instinto de sobrevivência política própria e de asseclas, ou apenas em função de orientação do marketing partidário petista, procura ansiosamente se mostrar diferente do ex-presidente Lula da Silva. É um direito dela, claro. Não creio que seja, porém, autêntico (genuíno, quiçá) esse afastamento ideológico. Obviamente, ela não tem; nem carregada pelos três Porquinhos, peso histórico para tanto. Ouso, até, avaliar que não há nem sequer legitimidade eleitoral para mudar a política econômica, remontar conceitos da política externa ou abrir mão de direitos sociais em nome do excessivo pragmatismo - por si só, característica de excessos que muitos chamam de governabilidade. Mas Dilma tem uma expectativa a cumprir: cuidar bem de uma máquina pública comprovadamente burra, desmedidamente corrupta e comprovadamente má administrativamente.

A imagem de boa gestora foi por ela vendida ¿ ou no mínimo estimulada.portanto, esse governo deve se esforçar, e muito, para mantê-la. Obviamente, há quem ache exagero cobrar tanto, de quem pode oferecer pouco - e refiro-me aqui, como eleitor e admirador dela, exclusivamente à questão temporal. Mas, algumas migalhas já poderia ter nos oferecido. Por, exemplo: afastar aquele ministro que, sabemos, ela considera incompetente (e de fato parece ser). Ou, ainda, espernear publicamente, até para aliviar nossa indignação, com gastos absurdos como os divulgados pelo Correio na edição de ontem. Só para relembrar: 1) Há um ano, i Iphan alugou um imóvel na Asa Sul por R$ 5,8 milhões, mas até agora não o ocupou; 2) No ano passado, a Previdência Social pagou estupendos R$ 1,6 bilhão para pagar aposentadorias a mortos; 3) O próprio governo descobriu que poderia economizar até R$ 500 por passagem aérea se apenas marcasse voos com antecedência.

É, convenhamos, uma esculhambação. Mas o pior ocorreu na quinta- feira Além dos costumeiros apagões do setores elétrico, aeronáutico e telefônico; surgiu, um novo tipo de pane: o computacional, que parou o Serpro e impediu que os brasileiros enviassem por algumas horas a declaração do Imposto de Renda Para agravar ainda mais a situação, as explicações para o fenômeno foram (vale a redundância) absurdamente disparatadas. Segundo o diretor da instituição, Marcos Mazoni, o que ocorreu foi "um esgotamento absoluto" da capacidade do equipamento de proteção do sistema. E que os mecanismos tem até 25 mos de operação. Enfim, o problema foi na "tomadinha" que deveria" ter resolvido e não resolveu.

Presidente, um gestor competente teria demitido no mínimo meia dúzia, de burocratas naquele dia A ideia que ficou foi: nesse governo permite-se, também, inabilidade, incompetência, inaptidão e outros traços marcantes que distinguem os estúpidos.