Título: Região serrana do Rio atrai companhias da área de TI
Autor: Magalhães , Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2008, Empresas, p. B3
Salas envidraçadas mergulhadas no verde, com lareira para aquecer no inverno. No jardim, piscina para refrescar as idéias no verão. A proposta é criar ambiente inspirador para corações e mentes entregues à tecnologia. Num canto escondido de Correias, no município de Petrópolis, está IdeaValley. Com quatro unidades espalhadas no campo gramado, sendo uma delas uma pousada, gente jovem, a maioria petropolitana e com formação em informática, trabalha, em turnos, dia e noite.
Atendem a contratos firmados com 21 jornais brasileiros e dois japoneses. Sergio Cabral Cavalcanti, um dos criadores da IdeaValley, informa que a equipe coloca na web a versão digital da edição do dia. O FlipSite, como é batizado o sistema, transfere inteirinho um jornal, revista ou livro, com a paginação original. O usuário vira as páginas com o mouse como se estivesse lendo da forma tradicional. Pode ampliar ou reduzir as partes que desejar.
Não muito longe dali, em Araras, está a Automatos, braço de desenvolvimento da Virtus. A Automatos resolveu tratar "a inovação de um jeito diferente", diz André Fonseca, presidente da companhia fruto da união de sete empresas. Transferiu os 40 desenvolvedores e pesquisadores para a sede, em harmonia com a natureza, dos oásis dos cariocas nos finais de semana. "Optamos por uma relação mais fluida entre lazer e trabalho. Saímos da movimentada rua da Assembléia, no centro do Rio. Em 12 meses tivemos um ganho sensível em produtividade e redução da rotatividade. Dobraremos a equipe em Araras", diz Fonseca.
A IdeaValley procura estimular os recursos humanos locais. "Contratamos o máximo aqui mesmo, a maioria ainda estudantes para ajudar na formação" diz Juliana Laxe, responsável pela gestão da empresa. Ela morava no Rio e transferiu-se para a casa da família na serra.
Com faturamento de R$ 15 milhões em 2007, e 110 empregados, a IdeaValley tem um gosto especial pela educação. Está trabalhando no desenvolvimento de um software e no design de uma carteira escolar digital, em que o aluno em vez de caneta, livros e cadernos, interage com um display. Com os dedos, aciona textos e imagens alimentados por servidores com as informações definidas para o currículo escolar.
Não é por acaso que muito próximo dali está a Fazenda Marambaia, de Luiz Cezar Fernandes, onde mora o ex-banqueiro e empreendedor inveterado. Na fazenda, entre criação de cabras e de dezenas de cachorros da raça paulistinha, fica a Taho, que presta serviços de banda larga sem fio em quatro municípios fluminenses, inclusive Petrópolis. Fernandes conheceu o quase homônimo do governador fluminense Sergio Cabral em um jantar de empresários em Nova York. Os dois sentaram-se lado a lado e, após uma hora de conversa, decidiram trabalhar juntos. Fernandes entrou com o dinheiro e o tino para negócios e Cabral com idéias e a formação em engenharia da computação.
Deu certo. Cabral e Fernandes estão juntos em vários negócios, inclusive o de inclusão digital da favela da Rocinha (RJ), criado em 2003 com o Viva Rio. O programa ganhou o prêmio de melhor projeto com tecnologia sem fio do mundo da Wireless Communications Alliance (WCA). A proposta acabou exportada para a Nigéria, onde Cabral morou dois anos instalando redes em comunidades carentes.
Há sete anos na região, a Marambaia Capital persegue vários projetos de tecnologia. Controla, também, a WiPlug, voltada para transmissão de dados via rede elétrica, e a Taho VoIP, com projetos de voz sobre IP. Desde o início, Fernandes exigiu de Cabral que as empresas fossem em Correias. Foi ele um dos que deram partida ao Movimento Petrópolis Tecnópolis, voltado para criação de um cinturão de empresas focadas em tecnologia na região.
Semana passada o Movimento promoveu o Festival de Tecnologia de Petrópolis, com a proposta de apresentar idéias, criar espaço para atualização e troca de informações com especialistas, além de promover shows de música digital, atraindo também a população local. O Palácio de Cristal, edificação que o Conde d'Eu mandou construir para presentear a princesa Isabel, foi aberto ao público. Havia atividades de princípios básicos da física, planetário inflável, jogos de computador.
Empresas como Petrobras, Shell, Michelin, Light, Furnas, entre outras estiveram presentes para falar sobre suas expectativas na área de tecnologia da informação. Johnny Chung Lee, da Carnegie Mellon University (EUA), especialista em interatividade e recentemente contratado pela Microsoft, mostrou o controle de imagens à distância na tela sem teclado ou mouse, apenas por de um sistema de controle da Nintendo. Tal qual Tom Cruise fez com uma luva no filme Minority Report, de 2002.
Logo depois da palestra de Lee, Sergio Cabral, da IdeaValley, apresentou um dispositivo semelhante controlado a distância por um simples led (diodo semicondutor). É a alta tecnologia em Petrópolis.