Título: Multis instaladas no país importam mais
Autor: Manechini , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 11/08/2008, Empresas, p. B7

Impulsionado pelas importações, o consumo aparente de máquinas rodoviárias no Brasil cresceu 52,3% no primeiro semestre deste ano se comparado ao mesmo intervalo de 2007. E o ganho de participação de mercado das máquinas importadas reflete não só o ingresso de empresas estrangeiras no país, mas também a estratégia dos fabricantes aqui instalados de compensar a perda de competitividade, causada pela valorização do real, com importações de produtos acabados ou componentes.

Durante o período, as vendas de equipamentos importados das empresas com subsidiárias no Brasil subiram 115%, totalizando 1251 unidades. Já o volume total de máquinas rodoviárias importadas (inclui caminhões e ônibus), de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), foi de 25.459 unidades, em alta de 36%.

Diante deste cenário, no qual chineses e coreanos ganham mercado, e os custos dos equipamentos produzidos no país crescem com a desvalorização do dólar, os fabricantes com produção local têm optado por ampliar a oferta recorrendo às filiais dos Estados Unidos, China e Índia.

Conforme os dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), quase 19% das vendas registradas no primeiro semestre são de importados. Para efeito de comparação, no mesmo período de 2007 a participação dos importados era de 13,2% e nos quatro anos anteriores não ultrapassou 11%. Os números da entidade são de empresas com fábricas no país: Agco, BobCat, Case, Caterpillar, Ciber, Dynapac, JCB, Komatsu, New Holland, Proton Primus, Randon e Volvo.

De janeiro a junho, o mercado interno adquiriu 6.716 equipamentos da categoria rodoviária desses fabricantes, superando em 5% todo o ano de 2005, quando foram vendidas 6.390 unidades. Essas máquinas são destinadas à terraplanagem, pavimentação e manutenção de estradas e vias públicas. Entre os principais modelos estão: retroescavadeiras, escavadeiras, tratores de esteira e rolos compactadores.

Segundo Roque Reis, diretor comercial da Case, a empresa está com capacidades de produção com certa ociosidade em algumas unidades, como a dos EUA, o que facilita a importação. "Já estamos trazendo alguns modelos de pás-carregadeiras e retroescavadeiras", disse o executivo, ao confirmar que a fabricante de máquinas analisa também a importação de outros produtos.

As vendas da Case no primeiro semestre foram 50% maiores do que no mesmo período de 2007, um total de 1.520 unidades. A empresa, pertencente ao grupo Fiat assim como a New Holland, possui fábricas em Curitiba (PR), Contagem (MG), Sorocaba (SP) e Piracicaba (SP).

Historicamente, as empresas presentes no país não produzem todos os equipamentos de seus portfólios. Para a Volvo, por exemplo, o Brasil é base de produção de escavadeiras e pás-carregadeiras. De toda a produção da unidade de Pederneiras (PR), entre 70% e 80% é exportado. Mas mesmo com o viés de produção pulverizada desses grandes fabricantes, as compras no exterior estão mais aceleradas do que em outros anos.

Na opinião de Antonio Carlos Bonassi, gerente de assuntos institucionais da Caterpillar e presidente da Câmara de Máquinas Rodoviárias da Abimaq, trata-se de um movimento pontual. "O consumo é extremo e essa é uma das razões para o aumento das importações", declarou. Para ele, outras variáveis, como o preço do aço especial no mercado interno, têm afetado a competitividade. "Certamente não é só o câmbio", acrescentou. A Caterpillar conta com uma fábrica localizada em Piracicaba, onde produz cerca de 24 tipos de equipamentos.

Além dos aspectos macroeconômicos, existe a percepção entre os fabricantes de que o mercado nacional evoluiu de forma significativa nos últimos dois anos, aceitando novos modelos, que em geral não são produzidos no país. Boa parte destes equipamentos são de menor porte, absorvidos principalmente pelas construtoras. De acordo com Yoshio Kawakami, presidente da divisão de equipamentos da Volvo na América do Sul, já é possível afirmar que há uma tendência de mecanização nas obras nacionais.

"As vendas dessas máquinas têm crescido mais de 80%, o que significa um movimento de substituição de mão-de-obra", ressaltou Kawakami.

Desde 2001 com uma fábrica no Brasil, em Sorocaba (SP), a inglesa JCB viu seu perfil de vendas mudar rapidamente em dois anos. Segundo Sidney Matos, gerente-geral da empresa, até 2006 a maior parte das vendas era para o exterior e hoje é destinada ao mercado interno.

Questionado sobre o ingresso de máquinas coreanas e chinesas no país, Matos não esconde o incômodo que essa concorrência causa nas subsidiárias brasileiras. "No caso do equipamento chinês, não entendemos como eles chegam com preços tão baixos." A alternativa, na opinião do executivo, é frisar aos clientes a questão da pouca assistência técnica que esses fabricantes oferecem.

Do outro lado da balança, os importadores, como a Brasil Máquinas, não têm do que reclamar. Felipe Cavalieri, diretor-geral da companhia, que representa a Hyundai no país, informa que só no primeiro semestre trouxe 1,3 mil máquinas da coreana. "Certamente superamos as nossas expectativas. Tínhamos como meta chegar a 2 mil equipamentos no ano", afirmou. Segundo ele, o Brasil já supera os EUA em termos de vendas para a Hyundai. Depois de introduzir a marca coreana, Cavalieri agora aposta na XCMG, principal fabricante chinês.