Título: Acordo encerra combates na Geórgia
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Fonte: Valor Econômico, 13/08/2008, Especial, p. A14

A Rússia interrompeu ontem as operações militares na Geórgia e aceitou um cessar-fogo, mediado pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy. Apesar da trégua, houve relatos de combates esporádicos. Há incertezas sobre o futuro da região. Ontem os EUA começaram a adotar medidas de retaliação contra a Rússia e ameaçaram barrar a entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ontem pela manhã, o presidente russo, Dmitri Medvedev, ordenou o fim das ações militares na Geórgia, após cinco dias de ataques das forças russas à ex-república soviética. Moscou invadiu o país após tropas da Geórgia terem ocupado a região separatista da Ossétia do Sul, de maioria russa.

Sarkozy advertiu, porém, que ainda há muita diplomacia pela frente. "Não temos ainda um acordo de paz. Temos uma interrupção provisória das hostilidades, mas isso já é um progresso significativo", disse o presidente francês, que neste semestre preside ainda a União Européia.

Pelo acordo, os dois países vão retirar suas forças da Ossétia do Sul. Mas a Rússia impôs uma série de condições. A principal é manter tropas de paz na Ossétia. A Geórgia acusa essas tropas de apoiarem os separatistas russos e queria sua substituição por uma força internacional. Moscou rejeitou.

O acordo deixa em aberto o status de das regiões separatistas Ossétia do Sul e Abkazia. A expectativa é que cresça a influência russa e que, com o tempo, essas regiões acabem se separando formalmente e se integrando à Rússia.

O governo russo também não aceita com o presidente da Geórgia, Mikheil Saakashvili, a quem Medvedev chamou ontem de lunático. Isso põe em risco a permanência dele no poder. "Nossa posição é que Saakashvili não pode ser nosso parceiro, e a melhor coisa seria se ele deixasse o cargo", disse o chanceler russo, Sergei Lavrov. Ele negou, porém, que Moscou vá tentar derrubar o presidente georgiano. Opositores no país o responsabilizam pelo conflito com a Rússia.

Saakashvili manteve ontem a atitude desafiadora em relação à Rússia. Numa manifestação de apoio que reuniu cerca de 150 mil pessoas em Tbilisi, capital da Geórgia, o presidente disse que Moscou pagará caro pela invasão do país, sem dar detalhes. Ele anunciou ainda que vai levar a Rússia à Corte Internacional de Justiça, sob acusação de limpeza étnica pela morte de georgianos na Ossétia, e que vai retirar a Geórgia da Comunidade de Estados Independentes (CEI), órgão de cooperação que reúne 12 dos 15 países que surgiram com o colapso da União Soviética.

Após quatro dias de apatia, o governo americano reagiu ontem à crise. Anunciou a suspensão de manobras navais conjuntas entre a Rússia e a Otan (a aliança militar ocidental). E ameaça bloquear a participação da Rússia em entidades internacionais, com referência específica à OMC. A adesão da Rússia, que vem sendo negociada há várias anos, precisa da aprovação de todos os países-membros.

Apesar da crise militar, houve pouco impacto econômico. A Bolsa de Moscou e o rublo se recuperaram de quedas anteriores e subiram ontem. Já o preço do petróleo se manteve em queda, apesar de ontem a BP ter fechado o oleoduto que atravessa a Geórgia (ver mapa) por precaução. O duto leva 150 mil barris de petróleo por dia do Azerbaijão à costa da Geórgia, para exportação. Também foi fechado um gasoduto que vai para a Turquia.

A agência de classificação de risco Standard and Poor's advertiu ontem para o risco de que investidores percam confiança na Rússia.