Título: Riscos internos preocupam executivos na América Latina
Autor: Borges , André
Fonte: Valor Econômico, 13/08/2008, Empresas, p. B3

Já foi dito que o Brasil tem os hackers mais perigosos do mundo. Foi dito também que oito em cada dez piratas de internet estão no país. Em concursos de pichação de sites, é corrente a afirmação de que os brasileiros estão sempre entre os mais ativos. Exagero ou não, a realidade é que essa fama pegou, e o resultado de tanta propaganda está refletido em uma pesquisa realizada pela consultoria Kaagan Research.

O relatório, encomendado pela Cisco Systems, mostra que o executivo brasileiro responsável pela área de tecnologia das empresas é o que mais teme as artimanhas digitais entre seus colegas que trabalham nos maiores países da América Latina. Consequentemente, é ele também o maior desconfiado de tudo que o cerca, principalmente dos funcionários de sua própria empresa.

Dos executivos brasileiros entrevistados, apenas 15% disseram que área de segurança de suas companhias está plenamente protegida das ameaças internas. Na Argentina, essa percepção sobe para 35% e, na Venezuela, para 41%. "Esse receio do executivo brasileiro chega a ser maior que sua preocupação com as invasões externas", comenta Ricardo Ogata, gerente de desenvolvimento de negócios da Cisco. "Quando se tratam dos riscos que vêm de fora, 28% dos executivos dizem ter estrutura pronta para lidar com os problemas."

O estudo ouviu, entre outubro e dezembro do ano passado, 624 executivos de TI (tecnologia da informação) de empresas instaladas no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Venezuela. Quando o assunto é a relevância dada à aplicação de sistemas e políticas de segurança, o Brasil é, de longe, o maior interessado. Segundo a pesquisa, 46% dos executivos consideram o tema como de alta prioridade, índice que cai para 15% na Argentina e para 23% no México. Isso não significa, porém, que o ambiente tecnológico desses países seja melhor que o brasileiro. "Estar menos preocupado com a segurança pode, muitas vezes, indicar um desconhecimento sobre os riscos reais que ameaçam a empresa", afirma Ogata.

O panorama da segurança da informação na América Latina conseguiu uma boa nota, segundo o relatório. Em uma pontuação de zero a 100 (sendo zero o pior cenário e 100 o melhor), a região registrou 64 pontos. O México, isoladamente, atingiu 66 pontos e o Brasil, 63. O que limita a avaliação, porém, é que não há estudos anteriores ou em outras regiões para efeito de comparação.

A despeito dos investimentos para proteger a empresa dos ataques de pragas virtuais, uma das prioridades das companhias brasileiras é adotar políticas e ferramentas de segurança que ampliem o controle de operações internas, passando pelo acesso de um funcionário ao local de trabalho até sua autenticação para usar um computador e, finalmente, ter acesso a recursos atrelados unicamente ao seu trabalho.

São essas tecnologias que têm puxado os investimentos no setor. A consultoria IDC mostra que o mercado brasileiro de segurança da informação movimentou US$ 370 milhões no ano passado. É pouco se comparado a tudo que se gastou no mercado de TI - um volume de US$ 21 bilhões em 2007 -, mas a previsão de crescimento tem se mantido em dois dígitos e neste ano pode atingir 15%.

O mercado mundial de segurança movimentou US$ 44,5 bilhões em 2007 e, até 2011, projeta-se que atingirá US$ 71,8 bilhões. A disputa pelo setor, que nos últimos anos esteve mais concentrada em fabricantes de produtos específicos, como antivírus e sistemas de detecção de intrusos, está cada vez mais nas mãos de fornecedores que oferecem um pacote completo de equipamentos e sistemas, como Cisco, EMC, IBM e Symantec.

A Cisco, uma das maiores empresas de rede do mundo, foi alvo de uma ação da Polícia Federal em outubro do ano passado. A chamada Operação Persona investiga um esquema fraudulento de importação que, com apoio de revendas intermediárias, teria desviado até R$ 1,5 bilhão dos cofres públicos. A diretoria da Cisco não comenta o assunto, sob argumento de que as investigações correm em segredo de Justiça.