Título: Carteiras de ações puxam captação do setor no ano
Autor: Monteiro , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 13/08/2008, EU & Investimentos, p. D2

Destemido, o investidor brasileiro está indo de peito aberto para a bolsa. Mesmo com a queda de 11,43% no ano, até dia 8, do Índice Bovespa, principal indicador do mercado acionário brasileiro, os fundos de ações seguem captando recursos. Os dados do site financeiro Fortuna mostram que, no acumulado do ano, até o dia 8, as carteiras de ações registram ingresso de R$ 5,454 bilhões. A categoria tem a maior captação do setor de fundos - só perde para a classe denominada "poder público" (carteiras voltadas para estados e municípios), para a classe "outros", onde estão os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), e para os fundos de previdência.

A entrada de recursos em fundos de ações é concentrada nas carteiras exclusivas de Petrobras e de Vale, semelhantes às com recursos do FGTS, que hoje não podem mais receber aplicações. No ano, até dia 8, os fundos compostos somente por papéis da estatal do petróleo captam R$ 2,200 bilhões, enquanto as carteiras formadas apenas por ações da mineradora registram ingresso de R$ 531 milhões até o dia 8.

Mesmo os investimentos diretos em ações estão maiores. Dados da Bovespa mostram que os aplicadores pessoa física, incluindo clubes, seguem investindo na bolsa e, no mês, até o dia 8, as compras superavam as vendas em R$ 538 milhões. A grande maioria desses investidores está aproveitando as cotações mais baixas no mercado para fazer um "preço médio" e compensar parte das perdas anteriores, apostando em uma recuperação. A participação do home broker no volume financeiro da bolsa em julho foi de 11%.

O investidor deve comprar na baixa, mas isso deve ser feito quando os fundamentos econômicos mostrarem que a crise já acabou, o que não se vê ainda, diz Alexandre Espírito Santo, diretor do curso de Relações Internacionais da ESPM-RJ e economista-chefe da Plenus Gestão de Recursos. "É claro que existem pechinchas, mas o cenário mostra que a crise lá fora está longe de acabar e que novos bancos podem ter problemas", diz.

A grande maioria está indo para as ações de primeira linha, tentando diminuir o custo de aquisição dos papéis em carteira, diz Fernando Camargo, sócio da Orbe Investimentos. O problema é que, ao fazer o chamado preço médio, o investidor vai comprando e aumentando sua exposição ao risco, alerta. E, para o pequeno investidor, é mais fácil entender o investimento em Petrobras e Vale do que em um fundo misto, já que se está comprando a ação de uma única empresa. Mas concentrar as aplicações em poucos papéis não é o mais adequado, ainda mais neste momento, afirma Camargo.

O mês de agosto começou com resgates no setor de fundos, de R$ 3,572 bilhões até o dia 8. As carteiras de renda fixa, que podem aplicar em papéis prefixados, tiveram saques de R$ 2,779 bilhões, enquanto os DI sofreram resgates de R$ 1,095 bilhão. Os multimercados seguiram perdendo recursos, com saques de R$ 685 milhões, e os fundos curto prazo apresentaram resgates de R$ 531 milhões. No ano, a captação do setor de fundos caiu para R$ 2,331 bilhões até o dia 8.