Título: Mantega se diz satisfeito com rumos da inflação
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2008, Brasil, p. A3
A inflação deve voltar mais rapidamente ao centro da meta de 4,5% (IPCA) se for mantida a atual reversão dos preços das commodities, segundo avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, feita ao deixar, ontem, a reunião do Conselho de Administração da Petrobras. "Estou satisfeito com a redução da inflação em praticamente todos os índices do atacado e do varejo. Significa que esse processo de alta de commodities está sendo revertido e isso vai fazer com que a nossa inflação possa caminhar mais rapidamente para o centro da meta", afirmou.
Na expectativa do mercado financeiro, medida pela pesquisa semanal Focus, do Banco Central, o IPCA deve encerrar este ano em 6,45%, abaixo do teto de 6,5%. É a segunda semana consecutiva que a pesquisa revela mais otimismo com a inflação. Segundo o ministro da Fazenda, essa possibilidade de o IPCA recuar mais rapidamente para o centro da meta não significa que o governo pode descuidar-se dessa questão. "Continuaremos empenhados em controlar a inflação porque ela sempre pode voltar e difundir-se a partir daquilo que já aconteceu no passado", garantiu.
Mantega também disse que o governo já está fazendo um bom superávit primário e, se necessário for, "essa é uma excelente arma para combater a inflação porque diminui o gasto do Estado e ajuda a segurar a demanda agregada". Recentemente, ao divulgar os planos de criação do fundo soberano, o governo anunciou que elevou de 3,8% para 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) a meta de superávit primário. Outra possibilidade é eliminar o déficit nominal das contas públicas, se possível ainda este ano - embora o governo não pretenda assumir esse compromisso.
O déficit nominal das contas públicas, que contabiliza as despesas correntes e os gastos com juros da dívida, é de 1,94% do PIB em 12 meses até junho, equivalente a R$ 52,7 bilhões.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, estava ontem menos otimista com a inflação que o seu colega da Fazenda. Pouco antes de participar de evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ele afirmou que é preciso ter "muito cuidado" para evitar o retorno da inflação. Jorge minimizou os resultados dos últimos indicadores e disse que se trata do primeiro mês de arrefecimento.
"A inflação precisa não só arrefecer, mas voltar para patamares aceitáveis", defendeu. Questionado se isso significa que um novo aumento de juros seria defensável, o ministro respondeu que sim, contrariando a posição de entidades do setor produtivo. Jorge ressaltou que os investimentos não foram afetados. "Os investimentos estão acontecendo, apesar do aumento de juros, que todos sabem que é pontual".