Título: Garibaldi critica proposta de reforma política
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2008, Política, p. A7

O presidente do Congresso, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), classificou ontem a reforma política que está sendo discutida pelo governo como pontual e simplória e acusou a existência de uma crise nas instituições políticas brasileiras que atinge desde os Três Poderes até os partidos. "Temas como fidelidade partidária, financiamento de campanha, reforma partidária, tudo isso é importante, mas muito mais importante do que isso é a crise nas instituições políticas e ninguém está prestando muita atenção nisso", afirmou.

Para ele, os poderes não têm atuado como deveriam. "Os poderes da República não funcionam como deveriam. O Legislativo não legisla como deveria. O Executivo não está governando como deveria governar porque está legislando e querendo legislar mais do que o próprio Poder Legislativo. E o Poder Judiciário, por omissão do próprio Poder Legislativo, aqui e acolá quer legislar", afirmou o senador potiguar.

Os partidos também foram alvo das críticas de Garibaldi. "Não há partidos verdadeiros na sua acepção. Não se constituem em correntes ideológicas como deveriam. Os programas partidários são iguais", disse, em almoço promovido ontem em São Paulo pela Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil.

O eleitorado brasileiro também foi criticado pelo senador pemedebista, na medida em que não se informa bem no processo de escolha dos seus candidatos e não cobra os políticos depois que eleitos. "Devia haver cobrança dos eleitores também, porque são eles que votam nos candidatos. Está faltando uma revolução educacional no país que permita ao eleitor escolher melhor em quem vai votar. Não pode um país como esse em que seis meses depois da eleição (o eleitor) não se lembra mais em quem votou. De modo que a reforma política não é essa coisa cosmética que se quer fazer, mas é ir ao encontro das verdadeiras mazelas que assolam o país."

Garibaldi voltou a atacar o Executivo pelo constante envio de medidas provisórias ao Congresso e consequente trancamento da pauta. "Temos que procurar solução para essa questão. O presidente é o recordista dessa Olimpíada. Ele que foi para a China precisava levar esse recorde. Na verdade, todos os presidentes usaram e abusaram de MPs."

O senador também fez auto-crítica em relação à classe política. Ao responder a uma questão da vereadora paulistana Myryam Athiê (PDT), sobre um possível "movimento velado" na sociedade que visa a desmoralizar a classe política, respondeu: "Os inimigos dos políticos primeiro são os próprios políticos. Às vezes são eles que pisam na bola, fazem gol contra. Os inimigos são aqueles que se omitem, que não procuram advertir os políticos de que são próximos. É uma questão não de ação contra, mas de omissão."