Título: Por US$ 299, dispositivo poderá ler pensamento do usuário
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Fonte: Valor Econômico, 12/08/2008, Empresas, p. B3
Hoje em dia, cada vez mais dependemos dos computadores para o trabalho e a diversão. De vez em quando surge uma nova interface que muda a maneira como interagimos com essas máquinas - as telas sensíveis ao toque do iPhone da Apple ou o controle de videogames sensível a movimentos do Wii, da Nintendo. Mas na maioria das vezes, ainda dependemos dos teclados, mouses e joysticks.
E se você pudesse simplesmente pensar em uma ação e o computador respondesse? Recentemente estive com executivos da Emotiv Systems, uma companhia iniciante de San Francisco que passou os últimos cinco anos pesquisando as chamadas interfaces cérebro-computador. A Emotiv está no momento fazendo os ajustes finos de um aparelho leitor de pensamentos chamado Epoc, que deverá começar a ser vendido no fim deste ano. O propósito desse dispositivo de US$ 299 é bisbilhotar seus pensamentos e traduzi-los em instruções para o computador, para que você possa jogar um videogame ou ordenar fotografias sem usar as mãos ou falar.
Para conseguir isso, a Emotiv usa a eletroencefalografia, ou EEG na sigla em inglês. A tecnologia é igual a que você encontra em qualquer hospital, mas enquanto os médicos normalmente aplicam gel na cabeça de um paciente e depois grudam os sensores que lêem os fracos sinais elétricos do cérebro, o "neuroheadset" Epoc possui 16 sensores embutidos em suas barras transversais que se comunicam com seu PC sem a necessidade de fios. Nada de manchas gordurosas ou fios enrolados. Mas para conseguir as leituras corretas, os sensores precisam fazer o contato certo com o seu couro cabeludo, o que pode levar algum tempo. E assim que o aparelho estiver posicionado, você precisa ter cuidado para não se mexer muito, caso contrário os sensores podem escorregar, impedindo o computador de obter um sinal claro.
Eis como a coisa funciona: se você pensa em levantar um objeto pesado, os neurônios de seu cérebro são ativados em um determinado padrão. Abra uma porta e o padrão muda - e o dispositivo pode lhe dizer a diferença. Como não há duas pessoas gerando exatamente os mesmos padrões, a Emotiv colocou no aparelho um jogo de fantasia que inclui exercícios práticos para ajustar o dispositivo ao processo único de pensamento de cada usuário.
Depois disso, você pode levantar uma pedra pensando "levantar", ou derrubar uma árvore pensando "empurrar".
Alguns neurologistas questionam se a maioria dos usuários possui agilidade mental para concluir o treinamento; a Emotiv afirma que qualquer um pode dominá-lo.
Quando eu tentei, o aparelho funcionou perfeitamente. Em uma das seqüências de treinamento, eu tinha que imaginar um cubo e depois desejar que ele desaparecesse. Após um pouco de prática, eu consegui fazer um cubo aparecer e desaparecer na tela do computador apenas com o pensamento. (Durante o treinamento, a Emotiv sugere que você complemente os exercícios de pensamento com movimentos de mão que ajudam o programa a perceber o que você está tentando fazer."
Os sensores do aparelho também respondem a certas expressões faciais, como raiva ou prazer, o que pode ser transferido para os personagens que aparecem na tela. E mais, certas emoções produzem padrões elétricos característicos - ou assim nos diz a Emotiv. Se você evocar pensamentos agressivos, o programa vai responder com certas ações no jogo. Aqui também eu aparentei ter habilidade - talvez seja o fato de eu ter anos de experiência no trato com editores. Eu consegui caçar algumas criaturas voadoras fantasmagóricas simplesmente tendo pensamentos diabólicos.
Outras características do software me lembraram aqueles velhos cartões de emoções que supostamente mostravam se você estava feliz ou triste. Assim que o seu "perfil de mapeamento" estiver concluído, diz a Emotiv, um recurso chamado EmoKey poderá invocar músicas ou fotografias que correspondem às sensações que você estiver tendo naquele momento. Não consegui chegar nesse estágio.
A Emotiv e a NeuroSky, sua concorrente no Vale do Silício, inicialmente estão visando o mercado de entretenimento. Mas as duas empresas afirmam que estão em contato com companhias de outros setores, incluindo fabricantes de televisores, equipamentos médicos e automóveis. Não estou pronto para dirigir um carro usando um desses aparelhos. Mas se alguma delas conseguir tornar mais amigáveis minhas interações com meu PC, estou nessa.