Título: Concessionária investe R$ 400 milhões em novo aterro sanitário de São Paulo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2008, Brasil, p. A2

O município de São Paulo deverá inaugurar até março do próximo ano seu terceiro aterro sanitário, em substituição ao aterro São João, cuja vida útil se aproxima do fim, após acumular um total de 30 milhões de toneladas de lixo em 150 metros de altura. A Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL) será administrado pela EcoUrbis, concessionária formada pela construtora Queiroz Galvão, Heleno Fonseca e Lot, responsável pela coleta e destinação final do lixo das zonas sul e leste da cidade de São Paulo.

"Recebemos a licença de operação e em 40 dias deveremos receber a licença de instalação da Cetesb", disse ao Valor o presidente da EcoUrbis, Ricardo Acar. De acordo com ele, o empreendimento demandará investimentos totais da ordem de R$ 400 milhões, sendo R$ 150 milhões já na primeira fase de operação.

A entrada em operação do novo aterro está prevista no contrato de concessão assinado com a Prefeitura de São Paulo em 2004. Salvo algum imprevisto, a empresa acredita que a entrada em operação da CTL deverá "casar" com o fim do aterro São João. O novo aterro receberá 1,74 milhão de toneladas de resíduos domiciliares coletados anualmente nas zonas sul e leste da capital (6 mil toneladas/dia) e atenderá a uma população de pouco mais de 6 milhões de habitantes.

O novo aterro terá vida útil de 11 anos e será construído ao lado do São João, no bairro de São Mateus, extremo leste da capital. Ocupará uma área total de 1,1 milhão de metros quadrados (435 mil m2 apenas para o depósito do lixo), que foi desapropriada por decreto municipal de 1992.

Diferentemente do São João, porém, a CTL contará com uma estação de tratamento de chorume - líquido oriundo da decomposição orgânica -, o que representará uma economia significativa para a concessionária, segundo o executivo. Por lei, os aterros sanitários devem coletar o líquido e entregá-lo para tratamento na Sabesp. "Estamos falando de 70 carretos por dia transportando chorume. Isso representa 1.800 metros cúbicos por dia". Acar prevê que a licença de instalação para a estação seja aprovada em 2010.

Além disso, a EcoUrbis contratou a consultoria de engenharia CTI and Associates, dos EUA, para desenvolver o projeto de captação de gás do lixo e a transformação em energia. "Queremos fazer a coisa certa desde o começo", diz Acar, em referência a erros técnicos que provocaram o desmoronamento de parte do lixo do São João em agosto do ano passado. O incidente paralisou a entrega de lixo ao São João por dez meses - os resíduos foram desviados para dois aterros privados - e causou prejuízo mensal de R$ 6 milhões à concessionária, diz o executivo.

A captação do gás metano criado durante a decomposição do lixo orgânico já é uma realidade em diversos aterros brasileiros. Além de contribuir com o ambiente também gera uma receita extra à concessionária.

Através de dutos, o metano é canalizado e queimado, transformando-se em dióxido de carbono (CO2), gás 21 vezes menos prejudicial ao clima. Só por isso, o empreendimento já estaria apto a participar do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), do Protocolo de Kyoto, que prevê a comercialização dos créditos de carbono no mercado internacional. Por convenção, cada tonelada de CO2 equivale a um crédito. "Podemos levantar até 30 milhões de euros por ano com o MDL".

Mas a concessionária planeja ir um passo além e transformar o gás em energia elétrica, fechando o ciclo de sustentabilidade. Desde janeiro deste ano, o São João já gera 22 MW/h de energia através desse processo, suficiente para atender 400 mil habitantes. Segundo Acar, ainda é cedo para estimar o potencial de geração energética do CPL. "Estamos fazendo este inventário."