Título: Dantas detalha ação de Greenhalgh
Autor: Jayme , Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2008, Política, p. A7
Daniel Dantas, dono do Opportunity, prestou longo depoimento ontem à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais da Câmara. Com os deputados, o banqueiro tratou mais da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, e da disputa societária em torno do controle da Brasil Telecom. Dantas revelou detalhes de sua relação com o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), dos contatos com o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), de supostos grampos praticados pela Telecom Itália e de possíveis investigações da PF sobre o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Absolutamente calmo, falando em voz baixa, Dantas chamou os parlamentares de "você" e praticamente dirigiu o próprio depoimento à CPI. Durante horas falou da disputa societária com o Citibank, os fundos de pensão e a Telecom Itália pelo controle da Brasil Telecom - recentemente, o Opportunity vendeu sua participação na companhia.
Quando perguntado sobre a Operação Satiagraha, na qual foi preso pela PF sob acusação de crimes contra o sistema financeiro, formação de quadrilha e outros supostos delitos, Dantas começou a revelar os contatos firmados por ele para ter informações da ação dos agentes federais.
Perguntado se Greenhalgh o havia informado a respeito da inclusão de seu nome nas investigações, Dantas negou. "Não, não foi ele. Em novembro do ano passado, eu fui informado de que existia uma operação encomendada na PF contra mim. Não me lembro como obtive essa informação", disse, antes de acusar o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, de estar por trás da ação. "O que diziam era que isso havia sido pedido pelo diretor da Abin, Paulo Lacerda. Que era uma represália, já que o Lacerda me atribuía a responsabilidade de ter entregue a uma grande revista do país um relatório que constava contas no exterior em seu nome", afirmou Dantas, ao relembrar reportagem publicada pela revista "Veja" em maio de 2006. "Na ocasião, desmenti isso pela imprensa e enviei carta ao Lacerda negando que o material tivesse partido de mim." Em nota, o diretor da Abin avisou que pediu à CPI para depor e rebater as acusações do banqueiro.
Segundo Dantas, depois da confirmação da venda da BrT para a Telemar, surgiram informações na imprensa de que poderia ser preso. "Fiquei preocupado", disse. "Estive, então, com o senador Heráclito, que esteve com o Paulo Lacerda. Ele disse que tinha pedido investigação a respeito, mas que não encontrou nada", revelou. Depois da explicação, Dantas foi perguntado se o deputado Greenhalgh, que já trabalhava para o Opportunity na ocasião, havia telefonado para o chefe-de-gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. "O Greenhalgh me disse que tinha ligado para saber o motivo disso (a investigação). E que não tinha nada (contra Dantas)."
Na versão do dono do Opportunity, o ex-deputado petista foi apresentado a ele por meio do publicitário Guilherme Sodré, o Guiga, que lhe disse que Greenhalgh "poderia ser útil numa negociação com os fundos de pensão". O petista, então, "foi contratado como negociador com os fundos. Na época do carnaval (de 2008), começaram a surgir rumores de que nós éramos o elemento que impedia a venda da BrT para a Telemar. Havia uma seqüência de reportagens na imprensa querendo criar essa idéia. O deputado fez um longo estudo de todas os cenários do problema e nos fez uma proposta que funcionou muito bem", explicou Dantas.
Segundo ele, a idéia de Greenhalgh era fazer uma proposta formal de venda da participação do Opportunity na BrT e divulgá-la aos principais agentes governamentais envolvidos, como o BNDES e a Anatel. "Essa estratégia desmascarou a história de que nós éramos o empecilho à venda", afirmou. A partir daí, Greenhalgh atuou como mediador do relacionamento do Opportunity com os fundos de pensão. "Ele não negociou com a Telemar. Só com os fundos", disse Dantas.
Além de falar de Greenhalgh, Lacerda e Heráclito, Dantas também falou de seu depoimento à PF quando de sua prisão, há quase um mês, na Operação Satiagraha. O delegado Protógenes Queiroz, chefe do inquérito, lhe teria feito uma série de revelações. As duas mais importantes foram a de que o agente pretendia investigar a fundo a compra da BrT pela Oi e que pretendia investigar "até o fim" Fábio Luiz da Silva, filho do presidente da República. Lulinha, como é conhecido, recebeu R$ 5 milhões da Telemar (dona da Oi), por meio de sua empresa, a Gamecorp.
Além de ser réu na Operação Satiagraha, Dantas também sofreu investigações da Operação Chacal, de 2004. Na ocasião, suspeitava-se de que a Brasil Telecom teria contratado a multinacional Kroll para investigar, com práticas ilegais, seus adversários na disputa societária pelo controle da companhia. "Não tem grampo nenhum. A BrT contratou, a Kroll investigou e nenhum grampo telefônico foi feito."
Segundo ele, a Kroll foi contratada para apurar possíveis irregularidades na compra da Companhia Riograndense de Telefonia (CRT) pela BrT e supostas práticas ilegais da diretoria da Telecom Itália. Dantas acusa a empresas de fazer escutas ilegais. "Quem fez grampos ilegais, ao que tudo indica, foi a Telecom Itália, que utilizou uma infra-estrutura no Brasil - alvo de investigação na Itália -, onde vários agentes confessaram que pagaram e contrataram para fazer escutas e desviar correspondências nossas e de empresas ligadas a nós". Em nota divulgada à imprensa, a Telecom Itália "nega e refuta as acusações" feitas por Dantas. A diretoria da imprensa diz que está "tomando medidas necessárias para esclarecer os fatos à sociedade".