Título: Lucro líquido do Rural cresce seis vezes
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2008, Finanças, p. C3
Kátia Rabello, presidente: "Agora podemos enfrentar os problemas normais de todos" O Banco Rural divulga hoje o balanço do primeiro semestre com lucro líquido de R$ 39,958 milhões, resultado seis vezes maior do que os R$ 6,270 milhões de igual período de 2007. O retorno anualizado foi de 23,7% sobre o patrimônio de R$ 372 milhões.
É o sexto semestre consecutivo de resultado positivo do Rural, em parte ainda garantido por ganhos extraordinários. Mas, a presidente do banco, Kátia Rabello, está feliz por ter recuperado o equilíbrio, depois do abalo de 2005, quando foi atingido pelo escândalo político do mensalão. "Conseguimos fechar as torneiras das despesas, nos equalizar e voltar a crescer em captação e resultado. Agora podemos enfrentar os problemas normais de todos", disse Kátia, para quem a perspectiva de uma conjuntura mais difícil como a esperada para o segundo semestre e 2009, com inflação e juros em alta e crescimento menor pode ser considerado um "paraíso", perto dos problemas que já administrou.
Os resultados do primeiro semestre foram favorecidos por uma reversão de provisão devida a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável ao banco em questão de base de incidência da Cofins. A decisão do STF, tomada em 30 de maio foi confirmada em 24 de junho por Agravo Regimental, mas ainda não foi publicada. Para os auditores do banco, a Deloitte Touche Tohmatsu, seria adequado esperar a publicação. Mas, diante da iminência disso e apoiado pelo conselho de especialistas que assessora a instituição, o Rural resolveu contabilizar seus efeitos agora. O conselho renovou em abril a assessoria ao banco.
Segundo a Deloitte, a reversão de provisão para contingências com o Cofins e registro de ativo como impostos a recuperar tiveram impacto de R$ 32,557 milhões e R$ 89,236 milhões respectivamente. O patrimônio e o resultado do semestre estão apresentados a maior em R$ 73,076 milhões líquidos dos efeitos tributários, diz a Deloitte.
Outro fator extraordinário que afetou o resultado do primeiro semestre, neste caso reduzindo-o, foi a provisão feita pelo Rural para contingência em relação a multa de R$ 29,417 milhões aplicada pelo Banco Central por irregularidade em operação cambial feita na década de 90. Os auditores avaliam que a provisão só deveria ser feita mais à frente, mas os consultores legais consideraram adequado fazê-la agora. Com isso, houve impacto no passivo não circulante, que está apresentado a maior em R$ 29,417 milhões; o patrimônio líquido e o resultado do semestre estão apresentados a menor em R$ 17,650 milhões, líquidos.
Questões extraordinárias à parte, o que mais deixou Kátia satisfeita foi a recuperação das captações. A expectativa do banco era captar uma média mensal de R$ 25 milhões em depósitos a prazo e o número quase dobrou para R$ 40 milhões. O volume de depósitos atingiu R$ 1,261 bilhão ao final do semestre , com 17% de crescimento em comparação com o primeiro semestre de 2007.
A carteira de crédito do Rural cresceu 18% nos doze meses terminados em junho para R$ 1,05 bilhão, dos quais 66,5% são operações com pessoas jurídicas, empresas médias; e o restante consignado. O volume de captação ainda é inferior à capacidade de originação de crédito, mas já permitiu ao banco reduzir as cessões de crédito consignado, o que melhora os resultados a longo prazo.
O Rural mantém 430 convênios ativos, apoiados por 31 pontos comerciais e 530 promotores e correspondentes bancários ativos. A originação do crédito consignado tem mantido uma média mensal de R$ 60 milhões. A produção cresceu 87% em relação ao primeiro semestre de 2007, levando o saldo da carteira a R$ 326 milhões. Kátia afirmou, porém, que o banco, assim como o restante do mercado, está contendo esses negócios, diante da redução da margem. A previsão de chegar a R$ 1 bilhão em carteira no fim do ano não será atingida.