Título: Eletrobrás planeja captar mais US$ 400 milhões
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2008, EU & Investimentos, p. D3

A Eletrobrás planeja captar mais US$ 400 milhões este ano, que se somarão ao empréstimo de US$ 600 milhões anunciado na terça-feira. Para 2009, a empresa vai propor em seu orçamento mais R$ 2 bilhões em financiamentos. E como informou o diretor financeiro e de relações com investidores, Astrogildo Quental, a companhia também estuda um aumento de capital, o que, segundo ele, é uma alternativa de mais longo prazo.

O programa de captações está atrelado fortemente às necessidades de investimento das empresas do sistema, que vão enfrentar o desafio de financiar parte da construção das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau, ambas no rio Madeira, e a usina nuclear de Angra 3.

Furnas tem 39% do consórcio que vai construir Santo Antonio, enquanto a Eletrosul e a Chesf têm, cada uma, 20% de participação no consórcio que venceu a disputa por Jirau.

Esses projetos, todos de grande porte, são exemplos do robusto programa de investimentos da "Nova Eletrobrás", nas palavras de Quental. O diretor ressalta que os investimentos nas usinas do Madeira são projetos em parceria onde somente uma parte será financiado com capital próprio, já que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai emprestar 75% para os consórcios. E dos 25% de capital próprio que caberá a cada sócio individualmente, lembra, a participação das subsidiárias da Eletrobrás não passa de 40%.

"Uma parte [da necessidade de capital] vai bater aqui e pode ser até que usemos esse dinheiro [das captações]", disse o diretor.

No caso de Angra 3, a Eletrobrás calcula que terá que aportar R$ 1,3 bilhão dos R$ 7,5 bilhões estimados para a obra. Isso porque o BNDES deve financiar R$ 4,5 bilhões, e outros R$ 1,7 bilhão serão empréstimos acoplados à compra de equipamentos em operação que normalmente é financiada por agências de crédito de exportação como os Eximbanks.

O único problema apontado por Quental em relação a Angra 3 é a comercialização da energia. A produção e venda de energia nuclear no país ainda é monopólio estatal e, com isso, Furnas assumiu a comercialização da energia de Angra 1 e Angra 2.

A medida não trazia nenhum problema no modelo anterior do setor elétrico, quando os preços eram ascendentes e invariavelmente a energia era repassada a preços maiores que os de compra.

Com o novo modelo, Furnas vendeu energia em leilões de longo prazo por um valor médio inferior ao preço que passou a pagar à Eletronuclear. A solução para esse problema é que a Eletrobrás assuma essa comercialização, o que, segundo o diretor, está sendo estudado pelo Ministério de Minas e Energia.

Com tantos projetos em carteira, a Eletrobrás também já pediu ao BNDES um tratamento excepcional, já que existe uma limitação para o endividamento das estatais no banco de fomento.

A captação de US$ 600 milhões anunciada anteontem será realizada por meio de acordo com a Corporación Andina de Fomento (CAF) e um pool de bancos liderados pelo Citibank.