Título: Preço do petróleo sobe 2,61%
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2011, Economia, p. 12

O petróleo foi, de novo, motivo de nervosismo nos mercados internacionais ontem. Não bastasse a insegurança política no norte da África e no Oriente Médio, os Estados Unidos ¿ maiores consumidores do produto ¿ divulgaram dados nada animadores sobre suas reservas. Segundo o Departamento de Energia, os estoques diminuíram 364 mil barris na semana passada, estacionando em 346,6 milhões. Tudo isso causou uma enorme tensão entre os investidores e fez os preços dispararem. Em Nova York, o barril com entrega para abril fechou em US$ 102,23, numa alta de US$ 2,60, equivalente a 2,61%. Em relação ao início da semana, a expansão é de US$ 5. Em Londres, a commodity acompanhou a tendência, encerrando o dia em US$116,35 ¿ quase um dólar mais caro que na terça-feira.

As autoridades norte-americanas divulgaram que as reservas de gasolina perderam 3,59 milhões de barris, surpreendendo os analistas do setor de energia, que esperavam um aumento na quantidade produzida. Os estoques de diesel e combustível para calefação tiveram um desempenho ligeiramente melhor, recuando 751 mil barris. A expectativa era de queda em um milhão de unidades. Desde 25 de fevereiro, as refinarias utilizaram 80,9% de suas capacidades operacionais.

¿O mercado está extremamente nervoso e os preços continuam subindo¿, constatou Tom Bentz, da BNP Paribas. Ontem, as forças de oposição ao governo de Muamar Kadafi perderam o controle das refinarias de petróleo, tomadas pelos rebeldes . Mas o mercado não tem noção exata do que isso representa, já que não existem dados concretos sobre exportações do país desde que a crise estourou. O ditador reconheceu que as reservas estão baixas, pondo a culpa na saída dos engenheiros e especialistas das empresas estrangeiras que abandonaram o país.

A Líbia produz cerca de 2% de todo o petróleo mundial, com 1,6 milhão de barris por dia. Parece pouco, mas é o suficiente para pressionar as cotações internacionais. As perdas causadas pelos conflitos na região podem ser de até um milhão de barris diários, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). As autoridades europeias tentaram acalmar o mercado, afirmando que as reservas globais seriam suficientes para abastecer todo o mercado pelo menos até o fim do mês.

Mas as exigências de qualidade são mais difíceis de ser satisfeitas. Alguns analistas afirmam que o petróleo leve saudita, possível substituto da matéria-prima líbia, pode causar problemas para as refinarias de outros países, devido à alta concentração de enxofre contida no produto. ¿O petróleo leve saudita tem cerca de 1,5% de enxofre e o petróleo líbio tem no máximo 0,5%¿, explicou Adam Sieminsky, do Deutsche Bank. Para ele, o petróleo que mais se assemelharia ao produzido na Líbia seria o nigeriano.

Produção brasileira A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou ontem que a produção brasileira de petróleo recuou após os resultados recordes de dezembro. Em janeiro, foram fabricados 2,122 milhões de barris por dia, volume 6,3% maior que o do mesmo período do ano passado. O gás natural superou o desempenho de janeiro de 2010 em 13,2 %, com 66 milhões de metros cúbicos diários.

Petrobras cautelosa » O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, voltou a garantir que a estatal não precisa repassar as oscilações na cotação internacional do petróleo para os preços do óleo diesel, gasolina e gás liquefeito de petróleo (GLP). Segundo ele, mesmo sem transferir as variações para os consumidores, a empresa consegue realizar lucros equivalentes ao de outras empresas internacionais do setor a longo prazo. ¿No longo prazo, realizamos o mesmo lucro que qualquer outra empresa realiza, só que eles têm muito mais volatilidade nos seus resultados do que nós¿, explicou.