Título: Commodity ganha espaço em ranking de exportação
Autor: Landim , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2008, Brasil, p. A3
A alta do preço das commodities provocou uma mudança importante no perfil dos dez maiores exportadores do Brasil. As montadoras perderam posições no ranking elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento para o primeiro semestre do ano, enquanto os exportadores de commodities agrícolas e minerais se destacaram.
Com exceção de Embraer e Volkswagen, as oito demais empresas líderes, no período de janeiro a junho, atuam no mercado de commodities. No primeiro semestre de 2007, estava mais equilibrado: seis exportadoras de commodities e quatro de manufaturados. As montadoras General Motors e Ford cederam lugar para as tradings agrícolas ADM e Louis Dreyfus.
"É o efeito do preço das commodities. Esses dados são o reflexo do auge do ciclo de alta", disse Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A opinião de Almeida é compartilhada pelos especialistas ouvidos pelo Valor: a explosão dos preços das commodities é a principal explicação para a mudança no perfil dos maiores exportadores brasileiros.
Outros fatores também influenciaram, como o mercado interno aquecido, que diminuiu o excedente para a exportação, e a valorização do real, que reduziu a rentabilidade das vendas no exterior. Os especialistas, porém, atribuem um peso menos significativo. "Mesmo que o câmbio tivesse trajetória diferente, o perfil dos exportadores mudaria, porque a alta dos preços é muito forte", disse Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O ritmo de crescimento do valor obtido com a exportação de commodities é expressivo. Uma das maiores tradings de soja do país, a ADM aumentou em 143% as exportações no primeiro semestre em relação a igual período de 2007, atingindo US$ 1,38 bilhão. Graças a essa performance, saltou do 17º lugar para a quinta colocação entre os maiores exportadores. A Louis Dreyfus, cujas exportações cresceram 86%, também é estreante no grupo. A empresa subiu da 19ª posição para o 9º lugar.
A Bunge Alimentos, que comercializa soja e açúcar , segue como a quarta maior exportadora do país, mas sua fatia das vendas totais subiu de 2,4% no primeiro semestre de 2007 para 3% nos primeiros seis meses deste ano. As exportações avançaram 55% em receita, para US$ 2,7 bilhões. Segundo a assessoria de imprensa da companhia, as vendas externas em volume ficaram praticamente estáveis.
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), não acredita que os manufaturados vão recuperar o espaço perdido no curto prazo. "Com o atual nível de câmbio, fica difícil", afirmou. Na sua avaliação, a queda do preço das commodities verificada recentemente pode provocar algum efeito, mas só em 2009. Ele explicou que os preços de soja e do minério de ferro estão definidos para 2008, porque a safra do grão é vendida com antecedência e a Vale do Rio Doce negociou com os clientes reajuste de cerca de 70%.
As tradings ocuparam o espaço das fabricantes de automóveis que tiveram fraco desempenho no mercado externo na primeira metade do ano. Maior exportadora do setor automotivo, a Volkswagen caiu da quinta para a décima posição. Os embarques recuaram 14% no primeiro semestre em relação a mesmo intervalo em 2007, para US$ 960 milhões. As exportações da Ford e da Fiat também cederam, respectivamente, 3,6% e 9,3%. Apesar da alta de 14% nos embarques, a General Motors saiu da oitava para a 13ª colocação entre as empresas líderes em exportação.
De acordo com dados divulgados ontem pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o volume exportado pelo setor automotivo recuou 3,3% de janeiro a julho em relação a igual período de 2007. Por conta dos reajustes de preços, as vendas externas em valor ainda sobem 9,5% nessa comparação. A avaliação dos especialistas é que o mercado interno aquecido é mais rentável para as montadoras do que a exportação. A produção nacional de veículos cresceu quase 22% de janeiro a julho deste ano.
A Petrobras se manteve como a maior exportadora brasileira no primeiro semestre e sua participação cresceu graças ao preço do petróleo, que atingiu o recorde de US$ 146 por barril no dia 3 de julho. No primeiro semestre de 2007, a estatal respondia por 7,4% das vendas externas do Brasil. Esse percentual chegou a 9,5% de janeiro a junho. As exportações da Petrobras subiram 58% no período, para US$ 8,6 bilhões.
Em seguida, aparecem Vale e Embraer, que também mantiveram suas posições. As exportações da mineradora subiram 54% no primeiro semestre, para US$ 5 bilhões. A Embraer também obteve um excelente desempenho, com alta de 55% nos embarques, para US$ 2,7 bilhões. A fabricante de aviões é pouco afetada pela valorização do real, porque importa boa parte dos insumos.
O secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, disse que o governo não está preocupado com a mudança no perfil dos grandes exportadores. "Esse fenômeno é temporário, mas só vai mudar quando os preços das commodities recuarem, o que pode demorar", disse. Barral atribuiu a maior importância das commodities no ranking de exportadores à sazonalidade da safra agrícola e ao aquecimento do mercado interno. O secretário também ressaltou que nos setores de produtos básicos é comum a concentração das exportações em poucas empresas.