Título: Café ficará até 30% mais caro
Autor: Freitas, Jorge
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2011, Economia, p. 15

CONSUMIDOR

As empresas de torrefação e moagem já avisaram: vão reajustar o preço do café de 25% a 30% nos próximos dias. Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Natan Herszkowicz, o aumento está sendo negociado com os supermercados e refletirá a forte alta das cotações internacionais do produto. Em fevereiro, na média, o grão ficou 65% acima dos valores praticados no mesmo período de 2010. Se considerada a média de preços do ano passado, a valorização chegou a 39%, conforme informou ontem a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

A disparada dos preços do café, que atingiram níveis recordes, está sendo impulsionada pela forte demanda, sobretudo por causa do inverno no Hemisfério Norte. Também está interferindo na cotação a oferta menor do produto no exterior, o que vem incentivando as exportações brasileiras. ¿Como a perspectiva é de continuidade de alta, a indústria deixou de ter condições de resistir ao repasse de custos aos os consumidores. Portanto, vamos corrigir os preços¿, disse Herszkowicz.

Ele ressaltou que a saca de 60 quilos de café no Brasil passou de R$ 250 para R$ 520 desde abril passado. ¿Acreditamos que as pessoas assimilarão bem o aumento do café, porque não há reajuste há cinco anos¿, acrescentou.

Para André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), apesar do aumento de até 30%, o impacto do café sobre a inflação deverá ser moderado. Na segunda semana de fevereiro, o tradicional cafezinho vendidos em bares e restaurantes foi reajustado em 0,9%. ¿No caso do cafezinho, o que mais pesa no preço é o serviço do estabelecimento comercial e não a matéria-prima¿, destacou. A seu ver, o que realmente preocupa são os preços internacionais de commodities como a soja, o milho e o trigo, integrantes da base da alimentação. Mas não é só. O Brasil importa a maior parte do trigo que consome.

Segundo Jorge Queiroz, técnico em Planejamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a despeito da negociação entre a indústria e os supermercados, o aumento dos preços do café ainda levará um tempo para chegar ao varejo. ¿A absorção de preços demora, pois as grandes redes de supermercados têm muita margem de negociação¿, afirmou. Para os analistas, a valorização do café vem em boa hora, pois, há anos, os produtores convivem com baixas cotações do produto.

Fator frete marítimo Analistas alertam para a pressão dos custos crescentes do transporte de commodities sobre a inflação dos alimentos, enquanto nações da Ásia, do Oriente Médio e da África disputam suprimentos, que são afetados pelos preços de grãos que mais que dobraram em menos de um ano. Mesmo que o aumento dos custos de frete seja temporário, até a entrada de novas embarcações na indústria de navegação, qualquer custo somado aos preços dos alimentos, que já estão em níveis recordes, poderá atiçar o temor de mais instabilidade no Oriente Médio e uma repetição dos conflitos por alimentos vistos em 2008.

Soja tem impulso Os preços futuros da soja subiam mais de 1% na sessão de ontem na Bolsa de Chicago, devido a atrasos na colheita do Brasil e por ganhos no mercado do petróleo. Segundo operadores, os futuros do trigo também tinham alta impulsionados por uma compra de 220 mil toneladas do trigo vermelho duro de inverno dos Estados Unidos e pelo fortalecimento no mercado da soja. A cotação de maio da soja em Chicago subia para US$ 13,94, enquanto o trigo subia para US$ 8,25.