Título: Custo de produção de grãos aumentou entre 22% e 55%
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 07/08/2008, Agronegócios, p. B11
Um estudo minucioso divulgado ontem pela Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP) mostra que o impacto da elevação dos custos de produção sobre a rentabilidade dos produtores de soja será mais ou menos favorável de acordo com a localização geográfica da lavoura.
Pelo levantamento, os produtores das principais áreas de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e Maranhão tendem a ser mais beneficiados pela variação dos custos do que os colegas de Mato Grosso, Goiás, Paraná, Tocantins e Piauí.
A pesquisa da CNA captou um aumento entre 22% e 55% no custo total de produção das lavouras na comparação com a safra anterior, puxado sobretudo pela elevação média de 80% nos preços dos fertilizantes. "Por isso, estamos recomendando aos produtores que, antes de plantar, tenham muita cautela e que façam as contas na ponta do lápis", afirmou o presidente da Comissão de Grãos e Cereais da CNA, José Mário Schreiner.
Na média, a rentabilidade será baixa, mas algumas regiões devem ter performance melhores, diz a economista da CNA, Rosemeire dos Santos. Em Rio Verde (GO), por exemplo, os produtores que colherem 45 sacas de soja e venderem a um preço médio de R$ 31,60 devem ter receita líquida negativa de R$ 125 por hectare. Na safra anterior, o prejuízo seria de R$ 50. Já os produtores de Maracajú (MS) teriam um salto na receita de R$ 238 para R$ 608 por hectare em caso de colher 50 sacas. "O produtor está no fio da navalha. Qualquer problema climático pode significar um forte prejuízo", resumiu.
O recado da CNA aos produtores embute um alerta ao governo em tempos de discussão sobre a renegociação das dívidas rurais. "Os produtores não terão dinheiro suficiente para pagar as contas da próxima safra e ainda honrar os compromissos de uma renegociação onerosa", afirmou Schreiner, que preside a Federação da Agricultura de Goiás (Faeg).
A pesquisa CNA-Cepea agrega também questões conjunturais, como o recuo nas operações em mercado futuros. Schreiner informou que apenas 7% de toda a safra de soja foi negociada na bolsa de mercadorias. "Em safras anteriores, tínhamos 21% ou 22% negociados nesta época", disse.
Para ele, é "um risco enorme" produzir sob essa circunstância, já que sem "travar" os preços no futuro fica "impossível" determinar a margem de lucro do produtor. "Até as tradings estão assustadas com a volatilidade das cotações. É muito preocupante". Na safra anterior, as tradings tiveram problemas de caixa para cobrir operações de ajuste de margens nas principais bolsas de futuro do mundo. "Neste ano, elas reduziram os financiamentos em 30%", disse Rosemeire dos Santos.