Título: Déficit foi de US$ 2,49 bi em julho
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Fonte: Valor Econômico, 07/08/2008, Finanças, p. B12

O mercado de câmbio registrou um déficit de US$ 2,494 bilhões em julho, o maior desde dezembro de 2006, segundo estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central. O resultado negativo foi puxado, principalmente, pelas remessas de lucros e dividendos e pela forte saída de investidores estrangeiros que aplicavam na bolsa de valores.

O déficit, porém, não representou escassez de moeda estrangeira no mercado de câmbio. Tanto que, no período, o BC absorveu cifra estimada em US$ 1,855 bilhão em seus leilões de compra de moeda estrangeira. Ou seja: sobrava dólares no mercado de câmbio, que os bancos venderam à autoridade monetária. Outra evidência de que não faltaram dólares no mercado é que a taxa de câmbio se valorizou 1,57% entre junho e julho, passando de R$ 1,59 para R$ 1,57.

Sobrou moeda estrangeira no mercado porque os bancos desovaram dólares que mantinham retidos. Entre junho e julho, eles reduziram em US$ 4,349 bilhões a sua posição comprada em moeda estrangeira, de US$ US$ 7,336 bilhões para US$ 2,987 bilhões. Assim, os bancos tanto venderam dólares ao BC quanto ao mercado, como importadores e empresas que fizeram remessas ao exterior, ajudando a cobrir o déficit no câmbio contratado.

Em geral, os bancos desovam dólares no mercado à vista quando há abundância de moeda estrangeira nos mercados futuros. Eles fazem operações de arbitragem: compram dólares no mercado futuro e vendem no mercado à vista. Segundo dados da BM&F, o conjunto de instituições financeiras aumentou em US$ 7,721 bilhões sua posição comprada no mercado futuro entre junho e julho. Investidores estrangeiros aumentaram a posição vendida no mercado futuro, em US$ 4,375 bilhões.

Em resumo: no mercado à vista, houve déficit, com as saídas de dólares do país superando os ingressos. Mas no mercado futuro sobrava moeda estrangeira. Os bancos compraram dólares no mercado futuro e venderam moeda no mercado à vista. Os bancos fazem esse tipo de operação de arbitragem, em geral, quando os juros cobrados no mercado interbancário internacional são mais altos do que o chamado cupom cambial, que é o juro pago em aplicações em dólares no mercado futuro. O cupom cambial costuma cair quando há investidores estrangeiros vendendo dólares no mercado futuro, ou quando a procura no mercado à vista é grande.

O déficit no mercado de câmbio, de US$ 2,494 bilhões em julho, é dividido em duas partes. De um lado, o segmento comercial registrou superávit de US$ 2,637 bilhões, resultado de US$ 17,090 bilhões em exportações e de US$ 14,453 bilhões em importações. De outro, foi registrado um déficit de US$ 5,130 bilhões no segmento financeiro, no qual são fechadas as operações de câmbio relativas a capitais que entram e saem do país, como empréstimos e investimentos, e os serviços e rendas, como turismo, remessas de lucros e dividendos e pagamentos de juros.

Nos dados divulgados ontem, o BC não discrimina exatamente o que provocou o déficit de US$ 5,130 bilhões no segmento financeiro. Na semana passada, porém, a própria autoridade monetária havia divulgados estatísticas parciais relativas a julho, que cobrem até o dia 28, que dão uma idéia das causas do resultado negativo de julho.

Os números mostram que as principais saídas de recursos se referem à repatriação de capitais investidos em ações. Os dados registravam saída de US$ 3,475 bilhões que estavam investidos na bolsa dentro do país. As estatísticas registravam também um ingresso de US$ 3,908 bilhões captados em bolsas no exterior, referentes à emissão de ADRs feita pela Vale. Mas a operação teve efeito neutro sobre o mercado de câmbio. Os dólares entraram no país apenas de forma simbólica, por meio de operações simultâneas de câmbio, de entrada e saída de recursos.

Os dados parciais de julho, até o dia 28, registravam ainda um pagamento líquido ao exterior de US$ 2,060 bilhões em lucros e dividendos. O turismo internacional produzia uma saída líquida, até aquela data, de US$ 711 milhões. Tambem era registrada uma saída expressiva de investimentos diretos de empresas brasileiras no exterior, com US$ 840 milhões até o dia 28.

Do lado dos ingressos de dólares, o movimento mais representativo foram os investimentos estrangeiros em renda fixa, sobretudo compra de títulos públicos, com US$ 3,227 bilhões, até o dia 28 de julho. Os investimentos estrangeiros diretos somavam US$ 2,9 bilhões até aquela data.