Título: Indústria reduz uso de linhas de crédito à exportação, aponta CNI
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2008, Brasil, p. A2
Pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela queda no número de empresas que usam linhas oficiais de financiamento à exportação. A entidade ouviu 855 executivos e verificou que apenas 16,8% usam pelo menos uma dessas linhas. Na pesquisa anterior, feita em 2002, foram 17,5%. Entre as linhas oficiais, as mais conhecidas são Proex Financiamento, conhecida por 74% das empresas e Proex Equalização, conhecida por 65%.
A CNI também informa que mais da metade das empresas que conhecem esses instrumentos de crédito não têm interesse em usá-los. Na interpretação do coordenador de pesquisas da entidade, Renato da Fonseca, esse desinteresse indica falta de sintonia entre a demanda do setor privado e a oferta de financiamento público. Ele ressalta que os resultados mostram "algo errado" na estrutura de financiamento público à exportação. Na opinião dele, as respostas revelam falta de informação, o que exige divulgação mais eficiente. Além disso, diz que há dificuldade de acesso e esse tipo de crédito, principalmente para pequenas e médias empresas.
Para especialistas, esse cenário revelado pela CNI é muito influenciado pelo câmbio valorizado. O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, afirma que o real valorizado desestimula as exportações e, conseqüentemente, deprime a busca por financiamentos. "Sem segurança para vender, o empresário não vai procurar financiamento", conclui.
Castro cita o exemplo da linha chamada Proex Financiamento, operada pelo Banco do Brasil (BB). Segundo ele, representantes do setor privado costumavam criticar, no passado, o tímido volume de recursos disponíveis: cerca de R$ 1 bilhão. Esse dinheiro caiu pela metade e o dirigente da AEB lamenta que, agora, ninguém reclama. "O câmbio desfavorável tira a competitividade do produto brasileiro e prejudica, principalmente, pequenas e médias empresas", comenta.
A pesquisa da CNI reforça essa conclusão da AEB. O câmbio foi apontado como o principal obstáculo às vendas externas. Seguem-se custos portuários/aeroportuários, burocracia aduaneira, custo do frete, tributário, do transporte interno, greves, acesso a financiamentos, entre outros.
Fonseca acredita que os problemas com financiamento às exportações revelados pelos empresários têm relação, principalmente, com desinformação e falta de acesso. "É expressivo número de empresas que não querem usar essas linhas oficiais. Alguma coisa está errada com a oferta desses produtos financeiros", aponta.
O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, admite que há desinformação no segmento das micro, pequenas e médias empresas que podem exportar, mas garante que o governo vem se esforçando. Cita os exemplos de portais na internet, dos inúmeros seminários realizados em diversas cidades, várias medidas previstas na segunda fase da política industrial e o uso da capilaridade da Caixa Econômica Federal, especializada em pequenas empresas.
Sobre a reclamação contra o que os empresários chamam de exagero na exigência de garantias para obter financiamento oficial, Barral pondera que isso é inerente ao uso de recursos públicos. Além disso, diz que as instituições financeiras têm de cumprir as normas de governança previstas nos acordos internacionais de Basiléia. Na análise dos dados da balança comercial, o secretário afirma que 92% das exportações são realizados por grandes empresas e essas usam linhas oficiais de crédito e até podem obter recursos no exterior.
Luiz Antonio Dantas, superintendente de Comércio Exterior do BNDES, contesta as críticas à divulgação das linhas e ao acesso de pequenas e médias empresas. Ele cita que os desembolsos do banco para apoio à exportação cresceram 21% de janeiro a julho, na comparação com igual período de 2007. A instituição trabalha com uma rede de agentes financeiros com 16 mil pontos de atendimento no Brasil.
O executivo do BNDES também ressalta que a linha Pré-Embarque Empresa Âncora oferece dinheiro para pagamento à vista de fornecedores, geralmente pequenas e médias empresas. Nesse caso, já foram beneficiadas mais de 700 empresas desde 2002 em diversos segmentos. As operações de financiamento de projetos internacionais de construtoras também são citadas por Dantas como exemplo de apoio indireto aos pequenos empreendedores nacionais. Desde 2002, foram financiados US$ 700 milhões para cerca de 1,5 mil fornecedores. Nesse universo, 80% são micro, pequenas e médias empresas. "As linhas do BNDES estão claramente explicadas em diversos portais na internet e temos postos avançados em inúmeras entidades empresariais", garante.
Castro, da AEB, admite que, atualmente, é mais fácil e mais rápido conseguir nos bancos privados crédito para exportar porque essas instituições não exigem quitação de dívidas tributárias.