Título: A pressão inflacionária mais forte registrada no s
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2008, Brasil, p. A5
A pressão inflacionária mais forte registrada no segundo trimestre ajudou a conter o ímpeto dos consumidores por bens não duráveis, sobretudo alimentos e bebidas, levando o varejo a encerrar o período com crescimento de 9,4%, ante os 11,8% apurados nos três primeiros meses do ano. Ainda assim, o setor encerrou o primeiro semestre com crescimento recorde de 10,6%, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Não é normal o segundo trimestre crescer menos que o primeiro. Mas ainda é um resultado bastante positivo", afirmou Emerson Kapaz, diretor do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV). Ele citou como razão para a desaceleração a alta nos preços de alimentos - que de janeiro a junho foi de 8,64%, para um IPCA de 3,64%. Além de inibir o consumo, a alta comprometeu a renda das famílias, sobretudo nas classes mais baixas. Apenas o grupo hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo apontou incremento abaixo da média, de 3,4%. O grupo representa 46% do índice de varejo.
De acordo com Reinaldo Pereira, coordenador de Comércio do IBGE, o efeito da inflação fica mais evidente quando o volume de vendas é comparado com a receita. Enquanto as vendas do varejo em volume avançaram 8,2% na comparação com junho de 2007, a receita subiu 15,2%. No semestre, as altas foram de 10,6% e 15,9%, respectivamente. O grupo hipermercados teve incremento de 1,5% em volume e 15,6% em receita. No ano, as variações foram de 5,9% e 17,5%.
O setor de vestuário, também mais sensível à evolução dos rendimentos da população, cresceu 10,4% entre abril e junho, ante 13,3% nos três primeiros meses do ano. De oito setores, sete cresceram acima de 10% no segundo trimestre, sendo que os maiores resultados foram obtidos pelos grupos equipamentos e material de escritório (32,4%), móveis e eletrodomésticos (que acelerou de 17,3% para 19,6%) e artigos farmacêuticos (12,6%).
Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), disse que a expansão em eletrodomésticos e eletroeletrônicos (incluso no grupo materiais de escritório) resulta da oferta ainda farta de crédito e da decisão de grandes varejistas em ampliar prazos de pagamento. "O brasileiro não se preocupa muito com a taxa nominal de juros, mas se a prestação cabe no bolso", afirmou.
O crédito farto também permitiu ao grupo de veículos, motos e autopeças crescer 23,2% no segundo trimestre, ante 21,4% no primeiro. O grupo materiais de construção acelerou 0,4 ponto percentual no período, atingindo 11,3% no segundo trimestre. Com esse resultado, o indicador de comércio varejista ampliado apontou alta de 13,8%, um ponto percentual abaixo do verificado nos três primeiros meses do ano. No primeiro semestre, o varejo ampliado registra crescimento de 14,3%. O grupo automotivo registra crescimento de 22,3%; construção civil cresce 11,11%
Para Kapaz, a acomodação da inflação prevista para o segundo semestre permitirá uma recuperação nas vendas do segmento de hipermercados e pode favorecer outros segmentos de bens de consumo não duráveis. Ele estima para o ano um crescimento semelhante ao de 2007, quando o varejo cresceu 9,7% em volume de vendas.
Alexandre Andrade, economista da Tendências Consultoria Integrada, tem previsão mais austera, de 8% de expansão no ano, resultado sobretudo do encarecimento do crédito no país. Em seu relatório, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também prevê redução no dinamismo do varejo no segundo semestre, em função da trajetória de elevação na taxa de juros e da desaceleração das operações de crédito a pessoas físicas. (*Valor Online)