Título: Em alta, perícia digital vira negócio
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2008, Empresas, p. B3

Já ficou popular a cena em que agentes da Polícia Federal, em suas operações de busca e apreensão, saem de prédios e casas carregando um amontoado de computadores e outros equipamentos de informática. O que ainda não ficou tão popular - talvez até propositalmente - é a figura do profissional que tem a missão de investigar essa parafernália toda e encontrar provas que ajudem a finalizar as investigações.

Silenciosamente, porém, esse personagem - o perito digital - vem assumindo um papel cada vez mais relevante nas investigações criminais e na gestão de grandes empresas, que começam a usar seus serviços com mais regularidade. As provas dessa importância crescente é o aumento explosivo no número de peritos no país e, principalmente, o fortalecimento dos negócios das empresas especializadas em criar o arsenal da segurança digital.

A Techbiz é bom exemplo do que vem acontecendo com esse mercado. Em 2003, quando era apenas uma integradora de software, a companhia começou a vender sistemas de forense computacional. "Foi uma surpresa para nós", diz Giovani Thibau, diretor de vendas e sócio da empresa. Dois anos depois, os produtos deram origem a uma operação separada, cuja receita já supera a da integradora de sistemas. A Techbiz cresceu 450% em 2007 e a previsão é aumentar 400% neste ano. Hoje, Thibau representa produtos de 12 companhias americanas. O empresário não revela o faturamento, mas o cálculo no mercado é que as vendas da companhia chegam a R$ 12 milhões por ano.

O movimento em torno da perícia digital também levou Leonardo Scudere, especialista que já colaborou com a solução de casos do FBI, a montar a Cyberbric. Criada em maio de 2007, a companhia distribui sistemas de oito fabricantes americanas e já reúne 20 clientes. "É um setor que está nascendo, com demanda por infra-estrutura e treinamento", diz Scudere.

A canadense CBL Tech, especializada em recuperação de dados, só vendia no país por meio de distribuidores locais. Há três anos, a demanda levou a empresa a montar um laboratório próprio em Curitiba (PR). "Há três anos, fazíamos uma média de 800 varreduras de HDs (o disco rígido do computador) por ano", diz Romildo Ruivo, diretor da CBL Tech. "Hoje, a média é de 3 mil varreduras."

A demanda vem de toda a parte. Operadoras de telefonia com milhares de funcionários compram sistemas especiais para proteger-se de fraudes e vazamento de informações. Os bancos têm a mesma preocupação. Mas não é no setor privado, que tem puxado os investimentos em perícia, que as mudanças decorrentes da investigação digital são mais sensíveis. Nada se compara ao que acontece na Polícia Federal.

Há três anos a PF tinha 75 peritos na área. Neste ano, o número dobrou. "Hoje, só somos menores que a perícia contábil e a de laboratório, que envolve drogas", diz Marcos Vinícius Lima, chefe do serviço de perícias em informática do Instituto Nacional de Criminalística, órgão da PF que recebe equipamentos apreendidos em operações.

No ano passado, a Polícia Federal montou laboratórios, treinou profissionais e adquiriu equipamentos de recuperação de dados e centenas de licenças de programas especiais, como Forensic Toolkit e Encase - das americanas Access Data e Guidance Software - usados para identificação, coleta, organização e análise de evidências em computadores. Segundo Lima, foram investidos US$ 11 milhões na área de perícia em informática da PF.

Mais está por vir. Lima não indica uma data, mas diz que a capacidade dos peritos oficiais está próxima do limite e que, entre o fim do ano e início de 2009, um novo grupo de profissionais será recrutado. "Acompanhamos esse movimento de perto", diz Wanderson Castilho, diretor da E-NetSecurity. A empresa treinou 75 peritos da PF no ano passado.