Título: Ultra paga R$ 1,1 bi por Texaco e encosta na BR no Sudeste
Autor: Vieira , André
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2008, Empresas, p. B7

Pedro Wongtschowski, do Ultra: aquisição de novas redes serão pontuais para reforço de participação regional Menos de um ano e meio depois de entrar no setor de distribuição de combustíveis com a compra de ativos da Ipiranga, o grupo Ultra adquiriu ontem por R$ 1,168 bilhão a rede de postos Texaco, da petrolífera americana Chevron, no Brasil.

O negócio fará o grupo brasileiro, que possui ainda atividades nas áreas de distribuição de GLP (gás de cozinha), logística e química, aumentar sua receita em mais de R$ 10 bilhões por ano, atingindo um faturamento superior a R$ 36 bilhões, o que o coloca em patamar de tamanho, neste quesito, atrás apenas das empresas do sistema Petrobras.

Diante do aumento de 30% nas vendas de carros no país, sustentada por uma classe média emergente, a aquisição da Texaco abre as portas para o Ultra entrar vendendo gasolina, álcool e diesel nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste onde está ausente. Além disso, permite encostar na líder do setor BR Distribuidora, da Petrobras, nas regiões Sul e Sudeste onde já tem presença.

"A Ipiranga volta a atuar em todo o território nacional", disse o presidente do grupo Ultra, Pedro Wongtschowski. "A disputa no mercado de combustível exige escala em um processo de consolidação", disse o executivo.

O grupo Ultra, que tem 14% do mercado nacional dos combustíveis líquidos, aumentará sua participação para 23%. A BR Distribuidora lidera o mercado doméstico com cerca de 35%, mas sua fatia cai para cerca de 30% na região Sul e Sudeste onde o Ultra passará a ficar com 28%. "Nesta região, nossa participação é equivalente à da líder", disse o diretor-superintendente da Ipiranga, Leocádio Antunes Filho.

O grupo Ultra adicionará quase 2 mil postos à sua rede de 3 mil pontos de vendas de combustíveis no país, além de crescer no número de lojas de conveniência para quase 900 estabelecimentos. A expectativa é que o negócio com a Chevron, que exclui as atividades de exploração de petróleo e lubrificantes no país, que serão segregadas da subsidiária brasileira, seja liquidado no início de 2009.

A região onde o Ultra está ausente até agora representa cerca de um terço do volume de vendas da Texaco. Mas o volume de vendas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste cresce a taxas de 14%, acima da média nacional de 11%.

Seguida pela Ipiranga comprada pelo Ultra e Petrobras e pela Esso adquirida pela empresa de açúcar e álcool Cosan, a transação da Texaco é o terceiro grande negócio a mudar de mãos no setor nos últimos 18 meses. O negócio foi avaliado em 7,8 vezes a geração de caixa da Texaco (que é de cerca de R$ 150 milhões por ano) - e está em linha com as outras duas aquisições do setor.

O Ultra, que adquiriu ativos avaliados em mais de R$ 4 bilhões com a compra da Ipiranga, União Terminais e agora da Texaco, financiará a compra com dinheiro do próprio caixa. "Continuamos com uma relação tranqüila de endividamento e geração de caixa", disse o diretor financeiro e de relações com investidores do Ultra, André Covre. Com a aquisição, essa relação, que foi de 0,4 vez no segundo trimestre de 2008, será inferior a 1,5 vezes, disse. A compra dos ativos da Ipiranga, avaliada em R$ 2,5 bilhões, foi realizada mediante a troca de ações.

O grupo Ultra promoverá a integração das duas empresas. Pelos termos da negociação, o Ultra tem direito de utilizar a marca Texaco por cinco anos depois da liquidação da compra, mas a migração dos postos para a bandeira Ipiranga acontecerá paulatinamente.

Pedro Wongtschowski avalia que o tamanho do Ultra é agora "adequado" às condições de mercado brasileiro. "Não antevejo novas transações significativas", disse ele, salientando que o grupo poderá fazer pequenas aquisições para reforçar posições locais ou regionais.

O presidente do Ultra também aposta na migração de postos conhecidos como bandeira branca para a rede da Ipiranga na medida em que o grau de informalidade for reduzido. Estima-se que cerca de 15 mil postos dos 35 mil postos de combustíveis existentes em todo o país encaixam-se nesta situação de mercado. Wongtschowski descartou a possibilidade de investimentos neste setor fora do país. "O potencial do Brasil não está inteiramente explorado", disse.

A negociação com a Texaco teve início há um ano quando os executivos do Ultra estiveram na sede da Chevron, em San Ramon, na Califórnia. A pretexto de uma visita de cortesia depois da compra dos ativos da Ipiranga, que havia ocorrida em março de 2007, os executivos deixaram a mensagem de voltar a ter uma cobertura nacional, uma vez que a aquisição do Ipiranga não permitia ter uma escala completa. O mesmo périplo foi realizado pelos executivos em outros rivais do setor, como a Esso e a Shell.

O Ultra chegou a avaliar de perto a possibilidade de adquirir os ativos da Exxon no país, mas acabou perdendo a disputa para a Cosan, que pagou US$ 826 milhões, além de assumir dívidas de US$ 163 milhões. As conversas com a Texaco, que começaram no fim de 2007, foram intensificadas - aparentemente apenas o Ultra negociou o ativo. E o desfechou da dura negociação acabou se revelando ontem.