Título: Lei Seca é irrelevante, diz AmBev
Autor: Cunha, Lílian
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2008, EU & S.A., p. D6

A Lei Seca, que entrou em vigor em 20 de junho, não mete medo na AmBev - Companhia de Bebidas das Américas - apesar do que dizem especialistas de mercado. Segundo os analistas Francisco Cunha Lima Cintra e Renato Prado, do Banco Fator, a nova regra, que impõe maiores penas para quem for pego dirigindo após beber, vai bater em cheio nos negócios da empresa no país. Luiz Fernando Edmond, diretor-geral para América Latina da Ambev, no entanto, discorda.

"A nova lei não é tão relevante para as nossas vendas quanto outros fatores, como a alta dos alimentos", afirmou ele. Segundo o gerente de relações com investidores da AmBev, Michael Findlay, a maior parte dos consumidores da AmBev é de classe média e média baixa. "Apoiamos a lei. Gostamos dela. A proibição não é para a bebida. Mas para a direção", afirma ele. "Na verdade, a lei afeta o consumidor que pega o carro e vai para um bar da moda. Eles são minoria. A maioria bebe no bar da esquina, perto de casa", acrescenta o executivo.

A empresa divulgou ontem seus resultados do segundo trimestre . Em resumo, os números divulgados mostraram pequena recuperação em relação aos primeiros três meses de 2008.

De janeiro a março, a operação brasileira registrou queda de 0,4% nas vendas em volume. Mas, no trimestre passado o volume de vendas de cerveja subiu 3,8% em termos orgânicos frente a iguais meses do ano anterior.

Com relação a julho, o primeiro mês completo sob influência da nova lei, a AmBev teve queda de 0,7 pontos percentuais, diminuindo sua participação de mercado para 66,7% , segundo a Nielsen. "Essa baixa não tem nada a ver com a nova legislação", afirma Findlay. "Nosso concorrente fez uma redução agressiva de preços e isso nos tirou um pouco de participação. No entanto, essa estratégia do rival não se sustenta por muito tempo", afirma.

Para a empresa, a inflação de alimentos que pressiona a renda disponível ao consumidor é mais grave que qualquer outro fator econômico ou até climático. "Com o consumidor gastando mais com alimentos, que estão mais caros, sobra menos para cerveja", afirma o gerente.

O aumento do salário mínimo em abril, fez os negócios melhorarem no segundo semestre. Mas o primeiro foi prejudicado também pelo clima chuvoso e pelo Carnaval em março. Já o aumento das commodities (cevada, milho e arroz), também não impacta as vendas, uma vez que foram feitos contratos de "hedge" para proteger a companhia.

No terceiro trimestre, a Lei Seca, segundo Edmond, poderá ter mais impacto, mas somente sobre as marcas "premium". "Mas não será nada que nossa força de vendas não possa contornar, com sua criatividade", completou Carlos Brito, presidente da InBev, que engloba a Ambev.

Em relação aos resultados gerais da AmBev no trimestre passado, a cervejaria teve lucro líquido 10,4% menor que o obtido no mesmo período do ano passado, chegando a R$ 402,1 milhões.

O aumento de impostos na Venezuela foi a principal causa da queda, de acordo com Edmond. A tributação mais alta naquele país fez a despesa com impostos da AmBev subir 20%, em relação ao ano anterior, chegando a

R$ 354 milhões. O lucro por hectolitro (100 litros) de cerveja vendido pela Hila-ex, a unidade responsável pelos negócios no Peru, Equador e Venezuela, caiu 17% e os custos avançaram 19%.

Com isso, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida), uma medida operacional que não faz parte do balanço, totalizou R$ 1,979 bilhão ante R$ 1,842 bilhão de reais no segundo trimestre de 2007 para a companhia toda. A margem lajida subiu para 41,7% no trimestre passado, ante 40,7% um ano antes. A receita líquida foi de R$ 4,739 bilhões, ou 4,7% frente ao segundo trimestre de 2007.

"Não fiquei satisfeito com esses números", afirmou Carlos Brito, referindo-se aos resultados da AmBev e da InBev, também divulgados ontem. A companhia belga reiterou que espera margens melhores no segundo semestre devido ao aumento das vendas e corte de custos.