Título: Sem Lula, Dilma encara palanque de candidata do PT em Curitiba
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2008, Política, p. A8

Numa de suas primeiras participações em rua na disputa eleitoral de 2008, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi disputada por dois candidatos na manhã de sábado em Curitiba. Ela havia desembarcado um dia antes na capital paranaense para participar de jantar organizado para levantar fundos para a campanha à prefeitura de Gleisi Hoffmann (PT), mulher do ministro Paulo Bernardo. No sábado pela manhã, foi até a Boca Maldita, local onde tradicionalmente são feitas manifestações políticas na cidade e onde foi encerrada uma caminhada de apoio à candidata petista. Trajando roupa vermelha e preta, a ministra subiu em carro de som e fez discurso em que ressaltou as qualidades de Gleisi e do presidente Lula. Antes de ir embora, foi tomar um café com companheiros de partido. O candidato do PMDB, Carlos Moreira Júnior, que fazia discurso próximo ao estabelecimento, decidiu entrar no local e convidá-la a falar em seu microfone. Poucos minutos depois, estavam lado a lado a ministra, Gleisi, Paulo Bernardo e o pemedebista Moreira.

A cena de sábado mostra que, na ausência do presidente Lula na campanha, Dilma testará sua popularidade junto à população e também junto a aliados. Ela era esperada para participar da caminhada com os petistas, mas passou a manhã gravando mensagens que serão usadas no horário eleitoral gratuito, tanto para Gleisi como para outros candidatos do Estado. A ministra chegou ao ponto de encontro com Paulo Bernardo e, no carro de som, o locutor elogiava a gestão de Lula e dizia tratar-se da "arrancada da campanha". Depois das boas-vindas do deputado federal Ratinho Júnior (PSC) e do vereador André Passos, coordenador da campanha, o microfone foi dada à ministra, enquanto alguns militantes que empunhavam bandeiras no calçadão ensaiaram um coro em que diziam "presidente, presidente".

No discurso, Dilma não falou como ministra, como havia feito na sexta-feira, em entrevista coletiva, mas assumiu o papel de cabo eleitoral. "A Gleisi une duas qualidades fundamentais para uma pessoa que pretende governar uma cidade como Curitiba: competência e sensibilidade", disse. A ministra lembrou que conviveu com a petista durante o período de transição do presidente Lula e elogiou sua atuação como administradora de empresas, como a exercida na hidrelétrica de Itaipu, onde foi diretora financeira. "Ela tem condições de realizar aqui o que o presidente Lula está fazendo pelo Brasil", afirmou a ministra. Dilma ressaltou a necessidade de ter uma bancada forte de vereadores e disse que estava na cidade também por causa deles. E encerrou com uma mensagem de otimismo para a colega, que aparece nas pesquisas de intenção de voto com apenas 12% a 13%, enquanto o principal adversário, Beto Richa (PSDB), conta com mais de 70%. "Tenho certeza de que você vira essa eleição. Você é uma candidata de chegada."

Paulo Bernardo, que também estava no carro de som, permaneceu sério boa parte do tempo. Quando o grupo saiu em direção ao café, o candidato Moreira estava falando na necessidade de levar a eleição para o segundo turno. Quando encontrou a ministra, deu um abraço e saiu com o grupo, que não teve como recusar uma declaração conjunta. "É uma festa democrática", disse Gleisi. Dilma dirigiu uma saudação a todos os pemedebistas, inclusive ao governador Roberto Requião e a Moreira. "Quero desejar a ele uma boa caminhada. Estaremos juntos no segundo turno", disse, para emendar com outra frase. "Vim apoiar a Gleisi. Isso não impede que tenhamos também relação fraterna com o Moreira e o PMDB." Questionada pelo Valor sobre a atitude de Moreira, de aproveitar a visita da ministra para sua campanha, Gleisi disse que sabia que o candidato estaria no local no sábado, mas afirmou não tratar-se de algo combinado. "É questão de companheirismo", afirmou. Segundo ela, ainda não foi feito cálculo eleitoral sobre o que aconteceu, mas a candidata diz não ter dúvida de que a presença de Dilma lhe trará votos. "Ela tem muita respeitabilidade", afirmou.