Título: PT centraliza programa de TV de Marta
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2008, Política, p. A9

Contemplados na elaboração do programa de governo de Marta Suplicy (PT), o bloco de esquerda que compõe a chapa (PCdoB, PSB, PDT) deve ter participação reduzida nas diretrizes do programa do horário eleitoral gratuito da candidata do PT à Prefeitura paulistana. A definição do horário eleitoral gratuito está concentrada no comando geral da campanha, composto por petistas. Os partidos coligados não apresentam publicamente críticas a essa centralização, apesar de reclamarem que o diálogo com o PT "poderia ser melhor". Além do bloco de esquerda, PRB e PTN compõem a chapa.

Dos partidos do bloco, o PCdoB é o com mais interlocução com a equipe de João Santana, responsável pela propaganda de Marta, mas ela está reduzida ao vice na chapa, o deputado Aldo Rebelo. "É ele que apresenta sugestões e, como vice, expressa a opinião do PCdoB", diz a presidente municipal do partido, Julia Roland. Já PSB e PDT, segundo seus dirigentes, não participaram das conversas sobre o horário eleitoral gratuito e não sabem ao certo quais serão as diretrizes do que será veiculado no rádio e na televisão. "No programa de governo todo mundo dá sugestões, mas na propaganda eleitoral, não. Não podemos dar palpite toda hora", disse o presidente municipal do PSB, vereador Eliseu Gabriel. O presidente do diretório do PDT, vereador Cláudio Prado, também disse não saber o que será apresentado, mas que confia na equipe.

A participação nas definições da campanha por meio de um conselho político foi a condição dos partidos de esquerda para se coligarem ao PT, mas o comando geral é composto quase que só por petistas, que ocupam os principais cargos, como Valdemir Garreta, encarregado de negociar com Santana. Representantes do PT na campanha minimizam o fato e dizem que os coligados são sempre consultados. Zarattini afirmou que líderes do PSB, PDT e do PCdoB participarão da propaganda do horário eleitoral gratuito gravando depoimentos - prevê-se os do ministro Carlos Lupi (PDT), do deputado Ciro Gomes e do governador Eduardo Campos, ambos do PSB.

Apesar da reduzida presença na discussão sobre as idéias a serem apresentadas no horário eleitoral gratuito, o bloco de esquerda mostrou-se satisfeito com o programa de governo de Marta, divulgado oficialmente na sexta. "Nem todas as principais propostas que defendemos estão escritas com todas as letras, mas, em princípio, estão contempladas", disse Gabriel, do PSB. "Defendemos propostas que não entraram, como o Bilhete Único para o desempregado, mas a exclusão foi negociada", relatou Prado, do PDT. "O PT predominou. Isso não significa que as propostas dos outros partidos não foram incorporadas", relatou Julia, do PCdoB. "O diálogo tem sido bom, mas podia melhorar", disse.

Exemplo da predominância petista nas propostas é o Centro Educacional Unificado (CEU), criado no governo Marta (2001-2004). A candidata quer construir mais 20 unidades e levar o "conceito" do CEU para toda cidade: que num mesmo local sejam oferecidos ensino, cultura, esporte e lazer. Já alguns dirigentes da coligação gostariam que os centros fossem voltados apenas para educação, em período integral. Do programa de governo apresentado na sexta, com 50 páginas, o PSB reivindica aprofundar a discussão de temas da área de Educação; o PDT, da área de Transporte e o PCdoB, de Esportes e Saúde. O PT diz que o programa pode incorporar novas idéias.

O programa de governo não trouxe "factóides", destacam dirigentes do PT. E a propaganda deve evitar as "criações mercadológicas", diferente do que houve em 2004, quando Marta disputou a reeleição. À época, foi muito criticado o projeto de "CEU Saúde". No programa de governo apresentado sexta, a idéia básica, que é a criação de policlínicas com especialidades médicas, foi retomada, mas sem o "caráter marqueteiro" da eleição passada. A propaganda eleitoral deve seguir mesmo caminho.